Na estrutura industrial portuguesa, a indústria têxtil e de vestuário assume-se como uma das indústrias com maior representatividade, sendo fundamental para a economia, uma vez que emprega uma porção significativa da mão-de-obra industrial. Trata-se de um sector maduro, fragmentado e sujeito a desajustamentos periódicos entre a oferta e a procura, cujo desempenho se encontra fortemente condicionado pelas flutuações da actividade económica mundial.

Apesar do sector dos têxteis e do vestuário, ter tido um peso mais forte em anos anteriores na economia portuguesa, o director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Paulo Vaz, destaca que o sector “ainda representa cerca de 3% do PIB português e 11% das exportações de tudo o que o país vende ao exterior”. Realça, também, que o peso é “mais relevante na indústria transformadora”, com cerca de “22% no emprego” e “8% no volume de negócios”.

A crise económica global de 2008 teve graves repercussões no sector dos têxteis e do vestuário, provocando uma quebra no consumo dos principais mercados e uma “redução drástica” da produção e exportação das empresas. Paulo Vaz lembra que, em 2009, o sector registou “uma quebra de cerca de 14% nas exportações”. Contudo, em 2010, houve uma recuperação, com o “aumento das exportações em 6,4%”, correspondentes a mais de três mil milhões de euros, que, no início de 2011, “atingiu 12,5%”.

Em Portugal, há sectores de actividade que conseguem contornar a crise

O JPN vai publicar um conjunto de peças relativas a alguns dos sectores de actividade em Portugal que, apesar da crise económica, continuam a mostrar sinais positivos de desenvolvimento. A cortiça, os têxteis, o calçado e as energias renováveis são algumas das indústrias que tentam e conseguem, por vezes, contornar a crise.

Perante estes “indicadores claros de recuperação”, o director-geral da ATP afirma que o “sector está cada vez mais competitivo” graças, em grande parte, à sua “vocação exportadora”, assente em “produtos de alto valor acrescentado”, na “inovação tecnológica e na criatividade”. Desta forma, o sector está diferente do que era há 20 anos, quando os têxteis “eram mais massificados na capacidade produtiva” e a procura se pautava pelos “baixos preços”.

Hoje, os mercados internacionais procuram os têxteis portugueses “pela alta qualidade, grande componente de serviço” que as empresas oferecem e “criatividade”. Aliás, o design “acaba por ser uma forma de desenvolver o sector”, através da aposta em “marcas de moda que têm as suas próprias propostas e as suas redes de retalho”, refere Paulo Vaz.

O principais destinos da produção são a Espanha, que importa “cerca de 30% dos têxteis”, a França com 14% e a Alemanha, com “pouco mais de 10%”. Paulo Vaz sublinha que, de facto, os países da União Europeia são os maiores importadores, com um peso de “80%”, sendo que os restantes 20% dizem respeito aos “EUA e a outros países emergentes, quer na Ásia, na África ou na América Latina”. Quanto aos produtos, “quase 60% do que é exportado é vestuário, sobretudo produtos em malha”, sendo que os restantes “40% correspondem a fios e tecidos em lã”.

A chave para o “melhor desempenho” passa por mais facilidades de crédito

Perante a actual conjuntura de crise económica portuguesa, o director-geral da ATP confessa que “a situação do sector está bastante melhor do que o país”, porque conta com “mercados externos”, algo que lhe vai permitir “continuar a exportar”. Contudo, salienta que o “sector poderia ter um melhor desempenho se houvesse mais facilidades de financiamento bancário”.

Apesar do contexto de crise, Paulo Vaz afirma que o sector “tem vindo a contrair em termos de emprego desde 1990”, devido a um “lento processo de reestruturação” levado a cabo através da “modernização e automatização, que penaliza o emprego, sobretudo nos postos de trabalho menos qualificados”.

A moda e inovação tecnológica

Para o sector dos têxteis e do vestuário continuar a afirmar-se no mercado internacional, a aposta deve passar pela “introdução da moda, da inovação tecnológica” para que se possa responder às exigências da procura. Desta forma, Paulo Vaz acredita que “o futuro passa pelo fomento do desenvolvimento tecnológico e pela formação profissional, para aumentar a competitividade no mercado”.