“Ascensão meteórica” deve de ser a melhor expressão para designar o percurso profissional de André Villas-Boas. Com 33 anos de idade, o novo treinador do Chelsea não demorou muito tempo para chegar ao pináculo da Europa futebolística.

De “sangue azul”, visto ser bisneto do visconde de Guilhomil, Villas-Boas também o parece ter por causa dos clubes que decide orientar. Primeiro escolheu o FC Porto e agora assinou pelos “blues” ingleses. Mas outra das características do jovem técnico prende-se com o facto de ser constantemente associado a José Mourinho. Na verdade, tal associação deriva de três razões: uma a que é alheio e duas em que tem “culpa” absoluta.

A primeira justificação para Villas-Boas ser apelidado de “clone de Mourinho”, mas pela qual não é responsável, tem a ver com a sua imagem: jovem e com um discurso assertivo. A segunda razão, em que André já tem alguma coisa a dizer, tem a ver com o facto de, tal como Mourinho, ganhar muito e perder pouco (no Porto, nunca perdeu para o campeonato e na Europa poucas vezes aconteceu, tendo conquistado, numa época, quase tudo o que havia à mercê dos “dragões”).

Por fim, Villas-Boas bem se quer demarcar do treinador do Real Madrid, mas não é a fazer o mesmo percurso que ele que o vai conseguir. Se José Mourinho alcançou glória no FC Porto e depois rumou para o Chelsea, André não parece querer ficar atrás e já fez o mesmo. Por causa disso, tem “culpa” na associação que lhe fazem a “El especial”. Mas desengane-se quem pensa que, desde “olheiro” a treinador dos londrinos, se passou muito tempo.

O miúdo que vivia no mesmo prédio de um Sir

Em fase de adolescência, quase a atingir a maioridade, Villas-Boas já “aconselhava” Sir Bobby Robson, técnico principal do FC Porto durante a década de 90 e seu vizinho de prédio, a fazer alterações na frente de ataque dos portistas. O treinador inglês ficou tão impressionado com os argumentos fundamentados do jovem André que lhe arranjou um lugar no departamento de observação do clube.

Nessa época já José Mourinho se encontrava nos “azuis-e-brancos”, ainda que como tradutor de Robson, mas os dois portugueses ainda mal sabiam que um dia estariam associados a períodos históricos dos “dragões”. Porém, antes disso, e talvez por causa das suas raízes britânicas, André foi para a direcção técnica da selecção nacional das Ilhas Virgens Britânicas.

Mas o tal dia da associação com Mourinho chegava pouco tempo depois da experiência no estrangeiro. Em 2002, José chegava ao FC Porto como treinador principal e contava com a ajuda de André, no cargo de observador de adversários e reforços, para trazer os portistas de volta ao trilho das vitórias. As várias conquistas, de onde se destacam a Liga dos Campeões e a Taça Uefa, fizeram-nos rumar, em 2004, ao Chelsea, clube ávido de títulos. As alegrias que os portugueses proporcionaram aos ingleses fizeram italianos quererem provar também o sabor das vitórias, e foi assim que José e André assinaram, em 2008, pelo Inter de Milão.

Os “nerazzurri” contaram pouco tempo com as “radiografias” que Villas-Boas fazia às equipas adversárias, pois tinha chegado a hora de seguir caminho sozinho. O jovem “olheiro” tornava-se, assim, treinador, e começava por baixo. A Académica de Coimbra recebia-o em Outubro de 2009 e, passados poucos jogos, já imprimia na sua equipa um futebol atractivo, de grande pendor ofensivo. Talvez por causa disso e, se calhar, pelo facto de Pinto da Costa lhe conhecer as cores do coração, sentou-se, em Junho de 2010, naquela que viria a chamar de sua “cadeira de sonho”: o cargo de treinador principal do FC Porto.

No entanto, “de sonho” seria a época dos “dragões”: conquista da Supertaça, do campeonato nacional (sem derrotas), da Taça de Portugal e da Liga Europa. “Do sonho” acordariam os adeptos portistas, um ano depois da contratação de André, com a notícia de que o Chelsea lhes tinha tirado o seu “miúdo” por 15 milhões de euros (a cláusula de rescisão). Na memória ficam os títulos, os festejos efusivos na hora dos golos e o sorriso inocente no momento de cumprimentar os treinadores adversários. No que diz respeito à relação com José Mourinho, pode ser que Villas-Boas passe de aprendiz a “mestre André”.