“Lembro-me como se fosse hoje e está ainda na minha mente o local onde me encontrava e a sensação que tive quando os ataques principiaram”, confessa Maria do Carmo Pereira, emigrante portuguesa há 30 anos a viver em Kearny, Newark, a cerca de onze quilómetros de Nova Iorque.

Na manhã de 11 de Setembro de 2001, Maria do Carmo estava na redacção do jornal Luso-Americano, onde é editora. “Fomos alertados que um avião tinha embatido numa das Torres Gémeas. Ligámos o televisor e ainda vimos o segundo aparelho chocar com uma das torres”, recorda. Nessa altura, uma vez que ainda não se sabia o que tinha, de facto, acontecido, Maria do Carmo achou “muito estranho que tivesse ocorrido um segundo ‘acidente’ num tão curto espaço de tempo”.

“Nunca me tinha passado pela cabeça que os Estados Unidos estivessem a ser atacados”, explica a editora, que viveu uma “sensação indescritível de impotência, medo, desgosto e incredulidade”. “Foram horas e dias incríveis que se sucederam”.

“Todos perdemos grande parte da nossa liberdade”

“A partir do dia 11 de Setembro de 2001, as nossas vidas mudaram completamente. Nunca mais fomos inteiramente livres de fazer todas as coisas ou de ir aos lugares que dantes nos eram completamente acessíveis”, conta Maria do Carmo. “Passámos a ser revistados por tudo e por nada, não apenas nos aeroportos mas também nos museus, parques e estádios”, enumera a portuguesa.

Hoje, dez anos depois, “o menor gesto suspeito pode provocar uma reacção de protecção ou de suspeição de qualquer acto terrorista”, considera a emigrante: “O que dantes era normal, deixou de o ser. Todos nós perdemos grande parte da nossa liberdade”.

Quando a conversa se centra nas mudanças pós-11 de Setembro, Maria do Carmo relembra o sismo sentido no passado mês de Agosto. “Muitas pessoas, antes de se aperceberem que tinha sido tremor de terra, pensaram se teria sido uma explosão ou algum tipo de ataque”, diz.

“Infelizmente, o envolvimento dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão e a perda de vidas de jovens americanos é outra das mudanças resultantes do 11 de Setembro, que veio avivar ainda mais o sentido de patriotismo que caracteriza o povo americano”, reflecte Maria do Carmo, para quem, em virtude dos ataques de 2001, “os americanos se habituaram a acatar melhor certas regras e supressões de liberdades, das quais anteriormente, por certo, não abdicariam”.