Ao cair da tarde, a Reitoria da Universidade do Porto (UP) foi-se transformando na antiga Faculdade de Ciências, emblemático edifício que acolhia as reuniões secretas e os encontros com a polícia de choque.

As viagens à Venezuela, ao Brasil, as atuações do Orfeão e as velhas amizades não ficaram esquecidas, naquele que foi mais um dos encontros de antigos estudantes da UP e que contou com a presença de 500 ex-alunos.

Boas recordações toda a gente tem mas Otília, uma antiga estudante, lembra uma com especial alegria. “Ò Rosa arredonda a saia” foi a cantiga que teve de interpretar do alto das escadas da Reitoria na sua primeira praxe, conta.

No mesmo grupo de amigas, uma antiga orfeonista lembrou, com um sorriso nos lábios, uma viagem à Venezuela por 500 escudos. “Belos Tempos!”, confessa.

Sem querer contrariar as companheiras, Maria Hélder não tem memórias nem da praxe nem do orfeão, uma vez que começou e acabou os estudos em pleno Luto Académico. No entanto, a economista guarda, também, boas lembranças do seu tempo de estudante. Maria Hélder salienta o companheirismo e a solidariedade que na altura existiam e que hoje parecem perdidos no tempo, como contou a antiga estudante, ao JPN.

Maria da Glória Barros Leite conheceu Jacinta Amaral na UP e juntas participaram em diversas actividades académicas. “Além das recordações que temos da Universidade do Porto, existem as lembranças ligadas ao Orfeão Universitário do Porto e à Associação dos Antigos”, refere. As duas antigas colegas recordam que no Orfeão se “aprendia democracia numa altura que não existia”.

Uma universidade diferente

As duas são cúmplices quando dizem que hoje existe um “clubismo” entre os alunos da universidade. Rivalidades que vão impedir os alunos atuais de se lembrarem dos tempos de estudante, com a saudade que ambas o recordam. Na década de 70, “o curso não interessava, interessava a convivência e as pessoas em si”, dizem.

Deolinda Oliveira Gonzáles, professora de Biologia e ex-aluna da UP diz que “são grandes as memórias” mas salienta, de um modo especial, as diferenças entre a Universidade de ontem e a Universidade de hoje. Segundo a docente, as melhorias são notórias: mais informação, mais atenção ao aluno e mais actividades. “Nota-se uma maior participação por parte do aluno. Antes era apenas as notas e pouco mais”, conta.

Já João Lobo, engenheiro de profissão, antigo aluno e ativista nas lutas académicas, aponta diferença nas preocupações. “Se na década de 70 cresciam as lutas idealistas, hoje crescem outro tipo de preocupações no ambiente académico. O desemprego é exemplo disso”, considera. “Não ter medo de arriscar” e procurar inovar podem fazer parte da solução, diz Manuel Azevedo, colega de João Lobo.

Embora hoje haja liberdade de expressão, acesso à informação e a vida de estudante seja facilitada, como lembra o médico Paulo Coelho da Silva Portela, o estatuto da Universidade do Porto permanece. “Já naquele tempo”, conta Jacinta Amaral, “uma pessoa abria o Jornal de Notícias e encontrava na parte dos anúncios: procura-se engenheiro da UP, médico da UP, economista da UP”.

Notícia atualizada às 20h36 de 2 de outubro de 2011.