Em Mancini, uma paragem munida de autocarros e elétricos, reúnem-se habitantes de Roma vindos de um dia de trabalho, prontos para regressar a casa. A zona não dá sinais de ser turística, facto apenas contrariado por duas senhoras que, perdidas, perguntam aos residentes onde fica a ponte que desejam visitar.

Seguindo a Via Flaminia avista-se o rio Tibre, que nasce na Toscana, atravessa Roma e desagua no mar Tirreno. Visivelmente sujo, não atrai o transeunte e a atenção é rapidamente desviada para um centro desportivo e de descanso para funcionários da ATAC, equiparável à STCP, no Porto, ou à CARRIS, em Lisboa.

Sem avisar – um pouco como acontece com os monumentos mais imponentes de Roma – surge a Ponte Mílvio, construída em 115 a.C, suportada por seis arcos e alvo de diversas reconstruções ao longo dos anos. A passagem por uma entrada em arco permite avistar as primeiras mensagens escritas nas paredes, entre as quais se pode ler: “A nossa amizade nunca poderá morrer”. Está criado o ambiente propício à visita.

A encantar há cinco anos

Desde finais de 2006, este local atrai casais que pretendem deixar a sua marca. Foi nesta altura que Federico Moccia, um escritor italiano, lançou o segundo livro de uma trilogia, “Ho Voglia di Te” (“Quero-te Muito”, em português), no qual os dois protagonistas compram um cadeado, escrevem o seu nome no mesmo, prendem-no à ponte e atiram a chave ao rio, simbolizando amor eterno e inquebrável. Este gesto encantou milhares de pares românticos que, até hoje, não param de repeti-lo.

No local encontram-se vendedores que tentam impingir cadeados a quem quer que passe, aproveitando a única razão pela qual esta ponte parece ser visitada. Não têm muita sorte. Os casais aparecem preparados para a ocasião e prendem o seu amor a postes de iluminação, ferros colocados em 2007 propositadamente para a ocasião, ou mesmo a cadeados posteriormente postos no local. Desde italianos a curiosos vindos de todo o mundo, são milhares as promessas feitas na ponte.

Depois da promessa, o vislumbre

Após concretizarem o motivo pelo qual se deslocaram à ponte, e mesmo para aqueles que só vieram vislumbrar a frequência de um ato repetido e respetivo volume alcançado, o próximo passo é reparar na Corso di Francia, uma estrada que atravessa o rio paralelamente à Ponte Mílvio e se reflete nas águas em perfeita simetria.

Esta paisagem torna oportuno o tirar de fotografias que vão permitir, mais tarde, recordar o momento. Há quem as tire à sua cara-metade, quem prefira aparecer em conjunto, pedindo à pessoa que passa que carregue no botão mantendo o plano meticulosamente calculado, ou até mesmo quem procure captar apenas a beleza do horizonte.

Não sendo tão imponente quanto a grande parte dos monumentos que dão a Roma mil e uma razões para ser visitada, a Ponte Mílvio consegue, ainda assim, num dia de semana já escuro, de céu tapado e marcado pelo frio de novembro, reunir quase uma centena de pessoas. A verdade é que este não é apenas um local de casais apaixonados, ao colecionar visitas de amigos que riem em conjunto, famílias que se abraçam em harmonia e esporádicos indivíduos que chegam sozinhos mas saem acompanhados, pelo menos, de um sorriso.

Notícia atualizada às 12h10 de 10 de novembro de 2011