Entrar na livraria é como entrar num mundo diferente. Um mundo composto por figuras de Asterix and Obelix, carros do Agente 007 ou livros da coleção Salgari. Por entre estes objetos avista-se a figura, com um metro de altura, de um jovem com uma cara redonda e um cabelo laranja, acompanhado por um cão, um fox terrier branco. Tintim e Milou estão a olhar pela vitrine da livraria “Tim Tim Por Tim Tim”, cujo nome tem uma sonoridade semelhante ao nome do personagem das histórias dos quadradinhos – apenas por coincidência e nada mais.

Quase nem se dá pela presença de Alberto Gonçalves atrás de uma das bancadas preenchida por livros de banda desenhada. Abriu a livraria em 2003 e agora, com a estreia do filme “As Aventuras De Tintim – O Segredo Do Licorde”, aproveitou para destacar os objetos que tem do herói. “Ciclicamente, num prazo muito curto, vamos renovando a montra com artigos sobre o TinTim”, explica o proprietário.

Alberto Gonçalves frisa que não se trata de uma exposição, até porque a livraria “não está vocacionada para isso”. “Aquilo que fizemos, com a estreia do filme, foi pensar em várias montras que se vão renovando todas as semanas até meados ou fins de novembro”, explica, acrescentando que, “depois, também vem o Natal e tem de se renovar”. Continuando, Alberto Gonçalves admite, com um sorriso que transparece o sentimento de orgulho: “Pois, isto não é um museu. Quase que pode funcionar como um, mas não é”.

As primeiras aventuras

E são já antigas as histórias que aqui podem ser encontradas. O livro mais antigo de “As Aventuras de Tintim” é de 1936, pertencente às primeiras edições em língua original. “Temos exemplares do TinTim belga. Temos o “Petit Vingtième”, um ano completo, o de 1936, com o ‘TinTim e o Ídolo Roubado‘, com 52 capas do Hergé”.

Na montra e nas estantes, a “Tim Tim Por Tim Tim” tem ainda as primeiras edições em língua portuguesa, em versão brasileira e, ainda, a revista do TinTim em versão portuguesa editada pela Verbo. “As edições em albúm mais antigas que temos são de 1953: primeiras edições de “As Aventuras De Tintim – Objectivo Lua”, refere Alberto Gonçalves.

São relíquias que quase valem ouro. Na “Tim Tim Por Tim Tim”, os preços das histórias aos quadradinhos deste repórter podem variar entre os cinco e os 500 euros. Mas Alberto Gonçalves salienta que um álbum de “As Aventuras De Tintim” dos anos 30, em muito bom estado de conservação, pode valer 10 mil euros.

“A melhor peça que eu tenho, que é o ‘Le Petit Vingtième’, não dá para ler”, afirma Alberto Gonçalves, explicando que apenas se pode mexer no livro com pinças. “É um suplemento de um jornal de 1936. Está bem protegido em sacas de plástico fechadas hermeticamente, exatamente por não podemos ter o prazer de mexer no objecto”, refere. O livreiro compara o suplemento com um exemplar do “Le Petit Journal”, de 1908, e garante que este último pode ser manuseado com mais à vontade do que o primeiro.

Assim, e apesar de ser o objecto mais valioso que neste momento a “Tim Tim Por Tim Tim” possui, o responsável afirma que “aquilo é para olhar… Não para abrir”. Aliás, Alberto Gonçalves lembra que os abriu apenas “uma vez para os conferir, porque é papel de jornal de 1936, antes da guerra. A Europa passava por uma profunda crise e o papel era muito fraco”, garante.

Mas além dos livros aos quadradinhos que contam as aventuras de TinTim, por toda a livraria também se encontram as personagens que vivem as histórias, carros, relógios e, ainda, cadernetas de cromos.

“Ninguém conseguiu igualar Hergé”

Alberto Gonçalves revela que tem “muito prazer em que as pessoas visitem” a livraria e que “se converse sobre a figura do TinTim e sobre curiosidades”. Para o proprietário, são as linhas claras e a simplicidade da história que cativam novos e velhos. “Por exemplo, no filme que estreou, eles limitam-se a andar à procura do tesouro”, descreve Alberto Gonçalves, acrescentando que, “em geral, quando há um livro ou filme de aventuras deste género, há mais alguém que também vai à procura do tesouro e que os está a prejudicar. Portanto, o filme não pode ser pacífico”, explica.

“Os livros do Tintim só têm um objetivo, o que quer dizer que a aventura é simples e que quem lê aquilo, lê com prazer, sossegado”, concluiu. Para Alberto Gonçalves, “é certo que, nem de longe, nem de perto, ninguém conseguiu igualar Hergé”, criador do TinTim, confirmando a ideia de “que ser simples, é complicado”.

O livreiro não hesita em dizer que quer ver o mais recente filme do repórter herói da banda desenhada e acredita que o filme vai conquistar pessoas de todas as idades. “Para mim, vai ser uma curiosidade”, admite.