“Não falo muito sobre o meu trabalho de álbuns – já podem ir embora – porque isso foi há 45 anos”. George Hardie, licenciado pela Royal College of Art, em Londres, trabalhou com Jeff Beck, Black Sabbath, Led Zeppelin e Pink Floyd. E falou mesmo sobre álbuns.

Como se sente sendo o responsável por uma das capas mais icónicas de sempre? Podia ser inocente e perguntar sobre qual das capas estás a falar. “The Dark Side of The Moon”, certo?

Certo. Tinha noção do impacto que aquele desenho ia ter uns anos depois?
Não, não… E só soube como era a música muito depois de ter feito os desenhos. Nunca fui muito bom com música.

Mas agora são inseparáveis…

Sim. Mas as pessoas esquecem-se que eu trabalhava com os Hypnosis e eles, quando eram crianças, tinham andado na escola com os Pink Floyd. Eles conheciam-nos a eles e à sua música. Mas o que mais me importa são as letras e eles escrevem letras óptimas. Foi assim que os consegui entender. Essa capa, particularmente, é muito estranha. O Storm Thorgerson, dos Hypnosis, encontrou uma fotografia e perguntou se podia transformá-la na capa de um álbum e foi esse o meu trabalho. Um trabalho bastante pequeno, na verdade. A razão pela qual se tornou tão bem sucedido é que foi um dos primeiros álbuns que dava muitos brindes. Fiz autocolantes, posters… A capa de “Wish You Were Here” tinha mais a ver comigo.

Mas o seu primeiro trabalho a sério foi a capa do álbum homónimo de Led Zeppelin…

Tudo isto aconteceu porque estudei na Royal College of Art, uma universidade muito boa. Tinha muitos departamentos, que se misturavam. O Storm Thorgerson andava na Escola de Cinema e pediu-me para fazer um lettering para um álbum do Jeff Beck. Depois disse-me que tinha que conhecer uma banda nova chamada Led Zeppelin e fiz uma coisa bastante boa para eles, mas rejeitaram-na. O Jimmy Page perguntou se podia ser com aquela fotografia. Então eu desenhei a fotografia porque não sabia o que fazer com ela. Portanto, é com muita sorte e eu gosto de sorte. Mas não, não foi com um design excelente. Excelentes eram as bandas.

Qual é o seu episódio preferido dessa fase de rock and roll?

Numa estação de metro conheci o Paul e a Linda McCartney. “Às vezes gostamos de ver como Londres é”, disseram-me. A falar com eles estava um negro, que eu pensei ser um músico que estivesse estado a trabalhar com eles. Fomos todos juntos, no metro, para casa. O Paul morava perto de mim também. E fomos falando até que o Paul e a Linda se despedirem. Depois despedi-me do estranho. “Prazer em conhecê-lo”. E ele responde “foi óptimo conhecer o John Lennon, não foi? Sempre quis conhecer o John Lennon”.

Sentiu grandes alterações no seu trabalho ao longo dos anos? Por exemplo, com a introdução dos computadores…

Eu ainda desenho com caneta, faço todos os desenhos à maneira antiga. Mas acho os computadores incrivelmente úteis. Não sou o tipo de ilustrador que gosta de linhas tortas. Gosto de geometria. Devia ter aprendido a mexer com os computadores sozinho…

Agora é mais fácil ser designer?

Muitas das pessoas com quem trabalho em ilustração fazem trabalhos maravilhosos, mas nunca há dinheiro. O dinheiro tem desaparecido, mas acho que isso tem que ver exclusivamente com a Economia.

O que é que pode fazer a diferença nesta área?

O essencial é ter uma ideia. Não serve apenas estar empregado por um estilo ou pela maneira como lidas com as coisas, mas pela forma como pensas sobre as coisas. Acho que essa é a diferença. Sempre pensei assim, mas é muito antiquado. Ter ideias não é importante para muitos ilustradores porque estão mais preocupados com aspectos decorativos. Não faço desenhos sobre coisas.

E esse é um problema?

Não, a ilustração de agora é maravilhosa. Dou aulas a mestrado e nem todos são ilustradores. Alguns são designers gráficos, outros, ocasionalmente, dançarinos ou fazem mobílias, o que é muito, muito mais interessante de certa forma. Eu não consigo fazer essas coisas.

Por que se tornou professor?

Para começar, pelo dinheiro. A razão principal de ensinar é poder discutir o que se está a fazer. Eu estou aqui porque quero justificar o que faço e transmiti-lo. Mas também quero que o discutam comigo e se estiver sentado a cinco metros da minha cama, só vou falar com o meu cão.

O que acha que será o futuro do design e da ilustração?

É uma bonita lacuna que vamos continuar a preencher, de formas inimagináveis. Com ferramentas que ainda nem inventamos. Mas não acho que as área de produção e pensamento irão mudar. Não me interessa se alguém carrega num botão que diz que a seguinte linha vai-se parecer com uma caneta ou se se desenha realmente com uma caneta. Não me importa, desde que seja um bom desenho e uma boa ideia. Acho que isso não vai mudar. E há imensos artistas que vêm para a área do design gráfico e levam emprestada a linguagem, o que acontece desde a Pop Art. Parece-me uma realidade enorme e muito entusiasmante e não vejo por que não resultará. Haverá sempre entraves, ainda para mais com a recessão, porque estas coisas implicam muito dinheiro.