Um consultor, um arquitecto e um jornalista. Três percursos muito distintos que convergiram na paixão comum pelas “biclas”. Miguel Barbot, Sérgio Moura e Hugo “Boinga” Cardoso são os rostos por detrás da Velo Culture, a nova loja de Matosinhos que convida as pessoas a trocarem o automóvel por uma bicicleta.

A Velo Culture nasceu no sábado (dia 7), na parte exterior do Mercado Municipal de Matosinhos, e distingue-se das outras lojas por não vender as típicas bicicletas de montanha. Vende, sim, bicicletas de transporte urbano, utilizáveis no dia-a-dia por toda a gente e para todos os fins, seja ir para o trabalho, sair com os amigos ou “fazer meia dúzia de compras no supermercado”.

Na Velo Culture estão reunidas várias marcas de bicicletas de estilo clássico – do qual a loja herdou a designação “velo” –, mas dotadas de uma “tecnologia moderna”, como fizeram questão de realçar os três amigos. Os preços variam entre os 200 e os 1500 euros, proporcionalmente à qualidade do produto. Os responsáveis asseguram que se trata de um investimento a longo prazo, porque estas bicicletas “praticamente não avariam”. Acessórios, livros e (a partir de Fevereiro) roupa fazem também parte da oferta, que contrasta com o aspecto antigo e recatado do pequeno estabelecimento.

Poupar na gasolina e no ginásio

Mais do que a questão ambiental, “já muito batida”, o que move o projecto é uma “questão social”. Pretende-se mostrar que a bicicleta é uma opção económica ao permitir poupar não só no veículo em si, mas também em gasolina e “até no ginásio”. Além disso, é veloz e não dá trabalho a estacionar. “É como andar a pé e de carro ao mesmo tempo”, compara Miguel Barbot.

O único obstáculo é o “mito” que, segundo os entrevistados, associa a bicicleta às “crianças” e aos “pobres”. Num cenário ideal, recuperar-se-ia a tendência do início do século XX – altura em que a bicicleta era um meio de transporte vulgaríssimo –, posteriormente destruída por um certo “status” ligado ao uso do automóvel. Nos dias de hoje, o ciclismo urbano voltou a ganhar força em países como a Dinamarca, a Bélgica e a Holanda. Para Sérgio Moura, a importação desse “estilo de vida saudável” seria uma mais-valia para Portugal e torná-lo-ia um país “mais contemporâneo”.

Paralelamente, o projecto visa fomentar uma maior união entre os ciclistas do Porto, à semelhança do que acontece em Lisboa, através da realização periódica de eventos. O primeiro teve lugar no próprio dia da inauguração: uma corrida em “bicla”, com a cidade como fundo, em que o mais importante não é ganhar. Aliás, o premiado é, normalmente, o último classificado. Chama-se “alley cat” e os três sócios prometem repeti-la em breve.