Em julho de 2012, as freguesias de Massarelos (6.859 habitantes), Miragaia (2.070), Nevogilde (4.998), Santo Ildefonso (8.995), S. Nicolau (1908), Sé (3.440) e Vitória (1.896) podem deixar de existir [regulamento em PDF] A justificação do governo prende-se com o memorando que garantiu apoio financeiro externo a Portugal e com a necessidade de redução da despesa pública. O critério aplicado é o de que, nos concelhos com mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado, as freguesias em sede de município têm de ter, pelo menos, 20 mil habitantes e as restantes, no mínimo, três mil.

“As freguesias são úteis e necessárias e é uma estupidez mexer-lhes para tentar resolver a crise. Pela via economicista, o Estado não vai resolver rigorosamente nada”, afirma José Pinto Ferreira, presidente da Junta de Freguesia da Foz do Douro que vai acolher Nevogilde.

A perda de identidade e de tradições culturais, sobretudo no centro histórico do Porto, cujas freguesias poderão ser agrupadas (Sé, Vitória, S. Nicolau e Massarelos), é outra das preocupações dos dirigentes. Para António Oliveira, pelo terceiro mandato consecutivo à frente da freguesia de Vitória, é uma proposta “de alguém que não conhece a realidade do centro histórico”. “430 anos de existência não valem de nada?”, questiona.

Outra questão que se levanta no debate sobre a Reforma da Administração Local é o futuro dos funcionários das freguesias em causa. José Pinto Ferreira garante que o lugar dos cerca de vinte funcionários da Junta da Foz não está em risco, mas a certeza do dirigente não afasta outras preocupações.

O Movimento Freguesias Sempre diz que está agendada uma semana de luto em abril e vários plenários, mas para já a grande prioridade é a manifestação organizada para 24 de março, em Lisboa, que contará com a participação da ANAFRE, Associação Nacional de Freguesias.

Daniel Vieira, promotor do Movimento, salienta que o processo de reforma da administração local não pode ser imposto e que a via democrática deve prevalecer. “A coesão territorial (apontada pelo governo) é um argumento muito vasto e pouco válido e, pelo combate político, acreditamos que é possível derrotar este documento. Se não for pelos autarcas, será pelas populações”, remata Daniel Vieira.

Só em julho é que o futuro das freguesias estará decidido. Até lá, há um longo caminho a percorrer que conta com o descontentamento dos autarcas.