A Universidade do Porto (UP) avaliou o desempenho académico durante os três anos de licenciatura dos primeiros alunos no pós Bolonha [PDF]. O intuito é conhecer, “com dados reais, o percurso de todos os estudantes na faculdade”, numa iniciativa que vai ser repetida nos próximos anos para os alunos graduados, refere Raul Santos, do gabinete de Comunicação da Reitoria da UP.

Em 2008/2009 ingressaram na Universidade do Porto 4280 alunos, dos quais 921 provenientes de escolas privadas e 3345 de escolas públicas. Em termos de média de candidatura de acesso ao ensino superior, 17 foi a média mais comum, ao reunir 21% dos alunos admitidos.

As duas escolas que mais alunos colocaram na UP, na dicotomia público-privada foram, respetivamente, a Escola Secundária Garcia da Orta (114 alunos) e o Externato Ribadouro (154 alunos). Após os três anos de licenciatura, na avaliação feita aos 224 alunos que integram os 10% de melhores desempenhos, verifica-se que o Externato Ribadouro contribuiu com cinco alunos e a Escola Secundária Garcia da Orta com 14.

Ser bilingue

Dentro das escolas privadas, os colégios bilingues podem também marcar a diferença no ensino superior. O JPN falou com estudantes universitários provenientes destes colégios sobre as vantagens do bilinguismo.

O estudo aponta que “a classificação de entrada não permite prever o desempenho académico individual” e que, “após três anos, os estudantes que fizeram os seus exames de acesso em escolas públicas têm uma presença superior no grupo dos 10% melhores que aqueles que os fizeram em escolas privadas”.

Raul Santos afirma que, “efetivamente, muita gente com notas altas acaba por vir de privadas e, assim como noutras escolas, posteriormente a sua média no curso não corresponde à média de entrada”. Raul acrescenta que a conclusão a tirar é que “as escolas, privadas ou públicas, estão mais interessadas em preparar os estudantes para os exames do que para a faculdade”.

Medicina é onde a disparidade público-privada se destaca

O curso de Medicina é aquele em que mais se acentua a diferença público-privado. O Externato Ribadouro teve apenas um dos 60 alunos admitidos em Medicina (FMUP e ICBAS) no grupo dos 10% melhores. Em termos percentuais, a Escola Secundária Garcia da Orta teve um melhor desempenho, uma vez que teve um dos quatro alunos admitidos nos 10% melhores, o que representa uma proporção de 25% da pública Garcia da Orta contra os 2% do privado Ribadouro. O mesmo acontece com escolas públicas como a Escola Secundária de S. Pedro com dois alunos admitidos em Medicina, os mesmos dois que constam nos 10% melhores.

No geral dos dois cursos de Medicina da UP, contrapondo as escolas públicas e privadas, por cada 100 estudantes de públicas com mais de 135 ECTS, 12,5% estão nos melhores 10%, ao passo que às escolas privadas correspondem apenas 7,58%.

Além do factor privado/público, também o indicador “ordem de escolha” parece ter influência nos resultados finais. Quando o curso é a primeira opção, os resultados são geralmente superiores às segundas ou terceiras escolhas. A percentagem de alunos admitidos em primeira opção alcança os 53%, com 80% desses alunos nos melhores resultados.

A Faculdade de Medicina Dentária tem a maior taxa de desistência ao fim do primeiro ano de licenciatura e o mesmo acontece no fim do terceiro, em que a taxa de abandono chega aos 56%. No panorama geral, o abandono do curso após o primeiro ano chega aos 17%, valor que para Raul Santos não é sinónimo de insucesso escolar, uma vez que muitas das vezes existe uma situação de reingresso de curso.

A atribuição de bolsa e a taxa de sucesso escolar tem também uma relação direta, na medida em que a taxa de abandono escolar é superior nos alunos em que a bolsa é recusada, relativamente aos alunos que auferem de bolsa.