Emigrar para a China. Este é uma porta que alguns jovens portugueses não querem ver fechada. Por isso, são cada vez mais aqueles que procuram falar a língua nativa chinesa. José Fabrica, aluno de Línguas e Relações Empresariais da Universidade de Aveiro (UA) estuda, correntemente, mandarim. “Decidi-me pelo chinês porque, como toda a gente sabe, é uma língua e cultura em ascensão”, explica o aluno.

As fracas condições de empregabilidade em Portugal são mais uma razão para o estudante querer dominar este idioma. “A língua e cultura chinesas são muito importantes no mundo dos negócios. Quanto melhor qualificações tivermos, mais hipóteses temos de ser bem-sucedidos”, afirma. Já Joana Sousa, estudante de Línguas e Relações Internacionais na Universidade de Coimbra (UC), não se vê a emigrar para a China. Apesar de achar a cultura do país muito interessante, os atentados que o regime chinês perpreta no que toca aos direitos humanos assustam-na. A jovem frequentou um curso de três meses oferecido pela Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, porque, “além de ser mais barato” do que o preço praticado na faculdade, o curso também oferecia material didático.

É por estas razões que cada vez mais há uma procura maior de cursos que ensinem chinês. Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), o curso de mandarim já é lecionado desde 2007. Nesse ano, inscreveram-se 75 alunos. Desde aí o número de formandos tem aumentado: este ano inscreveram-se, para esse mesmo curso, 115 alunos. A aprendizagem da língua já conta com quatro níveis diferentes.” Alguns portugueses apendem muito bem e falam muito bem”, revela a professora da FLUP Tang Wei Hua. Também o Instituto Confúcio abriu em 2008 e contava com 14 de alunos. Hoje, o número de formandos cresceu drasticamente: já são 300 aqueles que procuram aprender chinês neste Instituto. “É uma língua difícil, mas três ou quatro anos de aprendizagem deixam uma pessoa a falar razoavelmente ao ponto de conseguir entabular uma conversa”, promete Moisés Silva Fernandes.

Trocas comerciais na origem do apoio ao mandarim

O mandarim é um dialeto de origem sino-tibetana e tornou-se a língua oficial da República Popular Chinesa em 1958. Contudo, este não é o único idioma falado na China. Falado por uma franja mais pequena da população, o cantonês não é ensinado a estrangeiros até por ser de mais difícil aprendizagem. “Há uma grande diferença entre mandarim e o cantonês. Enquanto o mandarim tem quatro ditongos para pronunciar, o cantonês precisa de oito ou nove palavras. Só isto torna a coisa, muito difícil”, explica Moisés Silva Fernandes, diretor do Instituto Confúcio em Lisboa.

Apesar de também não ser fácil, o mandarim é cada vez mais difundido. Os apoios vêm, essencialmente, da Fundação Ranban, que é um orgão adjunto do governo chinês. Sendo, de acordo com Moisés Silva Fernandes, “um povo prático”, os chineses interessam-se, sobretudo, pelas trocas comerciais, razão que os leva a apoiar o ensino da língua oficial. Um dos exemplos do sucesso chinês é a sua parceria com o Brasil. “A China substituiu os EUA como principal parceiro do Brasil”, refere o especialista. Portugal, sendo uma economia periférica, é relegado para segundo plano. Mas, mesmo aqui, os chineses impõem a sua presença, como se viu na recente compra de 21,35% da Energias de Portugal (EDP), por parte da Three Gorges, empresa estatal chinesa.