Depois da presença do documentário José e Pilar (2010) na pré-seleção dos Óscares, segue-se o exemplo de “É na Terra não é na Lua” (2011), um documentário sobre a ilha do Corvo, de Gonçalo Tocha, que vai concorrer no Festival de Cinema “É tudo verdade” no próximo dia 22, no Brasil.

Como justificação para o sucesso que se tem registado, Soraia Ferreira, produtora de cinema e cabecilha da Yellow Pictures, afirma que “as pessoas têm colocado todo o seu empenho e todo o seu esforço na história que escolhem, especialmente num documentário, e isso traduz-se no produto final”. Já Dânia Lucas, a documentarista por de trás de “Gente do mar” (2006) e “Entre o céu e a serra” (2011), a estrear em 2012, explica que a evolução neste género se deve “às novas escolas de cinema e aos festivais de cinema nacionais que têm apostado no documentário, o que faz com que cada vez mais o público jovem adira”.

O segredo para cativar o público – resposta unânime das entrevistadas – é a escolha de uma boa história. “Num bom documentário, o essencial é conseguir construir uma boa e forte narrativa, um bom fio condutor”, afirma Dânia Lucas. Soraia Ferreira acrescenta, ainda, a importância das alterações que têm sido feitas na construção da história, ao dizer que “neste momento contar uma história já não se cinge apenas a uma plataforma”, processo ao qual se chama transmedia storytelling.

Relativamente à receção perante o público português, a atenção está a aumentar mas continua a ser muito reduzida. Segundo Dânia Lucas, o documentário não é, desde há vários anos, um género elistista e começa-se a formar um público específico em Portugal. No entanto, os portugueses estão ainda muito presos ao cinema e ao documentarismo comercial, atendendo principalmente à comunicação social. “Em Portugal, tirando dois ou três festivais nacionais, a televisão não passa nada”, diz.

Apesar do sucesso do documentário social, o documentário de vida selvagem ainda continua um pouco à margem da projeção exterior. Daniel Pinheiro, documentarista português especializado na área da vida selvagem, fez a sua formação no estrangeiro. Explica que não há oferta de formação por ser uma área muito específica e a melhor aposta está em países como Inglaterra, Estados Unidos da América e Nova Zelândia, alguns dos sítios onde ele próprio se formou. No entanto, é da opinião de que “as temáticas do ambiente e da natureza interessam cada vez mais ao grande público”.

Perspetivas de futuro

O futuro do documentário português no estrangeiro reside, essencialmente, no investimento na área. Soraia Ferreira explica que é isso que nos distingue das grandes indústrias cinematográficas, não havendo sequer lugar para comparação. “Acho que há profissionais, a investir mas estamos a atravessar uma fase muito complicada em termos económicos, do país e da conjuntura internacional”, completa.

No que toca à projeção no estrangeiro Dânia Lucas explica que cabe aos documentaristas “apostar na produção e insistir para enviar para o exterior”. Daniel Pinheiro partilha da mesma opinião, sugerindo a participação dos documentaristas em forúns internacionais, festivais da especialidade e a entrar nas redes sociais, as quais “são uma grande ajuda para dar a conhecer ao público”.

Notícia atualizada às 11h55 de 9 de março de 2012.