O Porto é a segunda cidade portuguesa com maior número de “couchsurfers”, pessoas que cedem o seu sofá a estranhos. Segundo a estatística oficial do site Couchsurfing, existem cerca de 4500 “surfistas de sofá” na Invicta. Sob o lema “um mundo melhor, um sofá de cada vez”, esta é uma prática em expansão.

Luís Castro tem 22 anos e estuda Direito na Universidade do Porto (UP). No entanto, antes de entrar para a faculdade, o jovem quis “ver o mundo”. Por isso, decidiu começar mais tarde os estudos e iniciar-se na prática do couchsurfing (CS).

“Surfista de sofá” desde 2009, o jovem começou por juntar-se ao grupo do Porto (em quase todas as cidades há uma comunidade de couchsurfers). Conheceu pessoas e recebeu-as em casa. Só ao fim de um ano é que Luís começou a viajar como couchsurfer. Vai muitas vezes a Inglaterra, França e Alemanha mas também já passou, por exemplo, pela Polónia, pela Finlândia e pela Noruega.

Luís Castro garante que é um sistema completamente seguro, desde que se preste atenção a tudo, pelo que “convém aprender a etiqueta do couchsurfing”. O jovem ressalva que “só se arranja problemas se se quiser”.

Luís considera o couchsurfing “mais que um hotel”. Diz o jovem que, o importante é, não só conhecer as pessoas, mas também a cidade na perspetiva de quem lá vive. Por isso, embora seja completamente gratuito, o surfista de sofá acredita que “o couchsurfing não é uma coisa de quem não tem dinheiro para viajar”, mas sim daqueles que têm “outro ponto de vista”.

Embora se recusasse a acreditar em pessoas que mudavam de vida, após se iniciar no couchsurfing, o jovem admite que se tornou “muito mais tolerante” e recuperou “a confiança na humanidade”. O CS abriu-lhe, até, novas oportunidades, como conhecer um jornalista alemão e a esposa, que lhe ofereceram possibilidades únicas. Sem fazer nada, foram-lhe abertas imensas portas. afirma. Por isso, o “surfista de sofá” garante que, “sem dúvida alguma”, o projeto “mudou completamente” a sua vida.

Apesar dos receios, o couchsurfing “é seguro”

Julia Domagalik e Kamila Kepinska são polacas e estão a estudar no Porto, no âmbito do programa
Erasmus. Ambas são couchsurfers, embora Kamila já não pratique CS há cerca de um ano e meio.

A jovem iniciou-se nesta prática em 2007, quando um amigo lhe disse que esta era “uma ótima forma de conhecer pessoas”. Kamila afirma que, na altura, não tinha “muitos contactos com estrangeiros e queria ter algum intercâmbio cultural”. Começou por participar nas reuniões da sua cidade, depos viajou como couchsurfer e recebeu três pessoas em casa. A jovem afirma que vivia com os pais e, por isso, não era “tão fácil hospedar pessoas o tempo todo”.

Embora seja “muito entusiasta” com o projeto, Kamila explica que fez uma pausa no CS porque é “um pouco cansativo”. A jovem diz que , quando hospeda alguém, põe toda “a energia nessa pessoa”. “Gosto de fazer bons amigos e de fazer as pessoas sentirem se bem em minha casa”, explica Kamila. No entanto, não põe de lado a hipótese de voltar um dia ao couchsurfing.

Por seu lado, Julia é ainda nova nesta prática. Começou por receber pessoas em dezembro de 2011, em Portugal, embora já há cerca de um ano tivesse decidido inscrever-se no site do CS. No entanto, quando começou a procurar pessoas, eram todos rapazes, “alguns com fotos todos nus”. Por isso, Julia teve algum receio. “Tinha medo que tivesse que trocar alojamento gratuito por sexo”, conta.

Quando chegou a Portugal, quis conhecer melhor o país, mas sem gastar muito dinheiro. Conheceu muitos couchsurfers que lhe garantiram que o site era “completamente seguro”. Convencida, decidiu visitar Sintra e dormiu no sofá de alguém recomendado por amigos. O homem que a hospedou tinha cerca de 40 anos.”Noutras circunstâncias, não teria ido”, admite a jovem, “mas decidi aceitar e foi espetacular. Ele foi muito simpático”, explica.

Tal como Luís, também Julia Domagalik gosta de conhecer a cidade numa perspetiva diferente. A jovem considera ótimo que as pessoas lhe “mostrem coisas que não estão nos guias”. Julia confessa que, atualmente, está à vontade com o facto de hospedar e ser hóspede de pessoas que não conhece. O receio desapareceu e a jovem diz ter uma mente “mais aberta agora do que há um ou dois anos atrás”.