A rua de Santa Catarina é o palco de Susana Silva, que entoa “Ne me quites pas” para a satisfação de muitos turistas. Dado o último acorde, recebidas as palmas e algumas moedas à mistura, o destino é a praça da Batalha. Foi lá que, há um ano, Susana entoou, perante uma multidão de “enrascados”, a música que considera ser um testemunho da sua posição relativamente à situação do país. “A Desfolhada”, de Simone de Oliveira, é um hino na voz da jovem natural de Paços de Ferreira.

Para Susana, as coisas “não mudaram” de há um ano para cá. “As pessoas gostam de ir a uma festa ao fim de semana mas, quando chega a segunda-feira, está tudo na mesma”. Esta é a metáfora que utiliza para descrever a manifestação do 12 de março.

“A Desfolhada”

A jovem considera que “o povo português está a ir na direção errada” depois da revolta que se manifestou, em massa, há um ano. “As pessoas estão sempre a reclamar com o governo, mas não é só com o governo que as pessoas têm que reclamar, é com elas mesmas”, numa “mudança de mentalidade” que, na opinião da jovem, se impõe cada vez mais. “Nós pensamos que precisamos de muita coisa, mas há que ter paciência e conseguir aos bocadinhos”, considera.

Susana afirma que os jovens se devem interessar e motivar, sem pensar no que vão receber em troca. Mas há ou não razões para estar preocupado com o futuro? “Preocupação é ocupação antes do tempo. Nós estamos a ocupar-nos demasiado em vez de agir”, responde. E a ação parte de cada um, na sua singularidade, em não ficar “à espera que os outros o façam”.

Apesar de considerar “A Desfolhada” uma música representativa da “Geração à Rasca” e do Movimento 12 de Março, Susana traz à conversa a música “Vinho do Porto” como uma nova inspiração. “Se nós quisermos entornar a pequenez e se nós soubermos ser amigos desta vez, não há ninguém que nos apanhe porque o vinho é português”, é a citação que escolhe. “Temos que deixar a pequenez de lado e erguer a cabeça”, conclui a jovem.

É à “luz do sol nascente” que Susana tenta vingar em Portugal, na senda da carreira na música que sempre ansiou. Por agora, Santa Catarina serve de palco à voz que se fez ouvir sobre a multidão a 12 de março de 2011.