No ano de 2003, três californianos partiram à procura de uma história na África profunda. No entanto, a história ficcionada que procuravam tornou-se bem real quando descobriram Jacob, um jovem que conta como viu o seu irmão ser morto em 2002.

10 milhões em 24 horas

Kony 2012 mostra a força das redes sociais. Em apenas 24 horas, o vídeo atingiu 10 milhões de visualizações no Youtube. Uma semana volvida, o vídeo conta já com cerca de 73 milhões de visitas e 10 milhões de partilhas no Facebook.

A crueldade do relato remeteu-os para a realidade de milhares de crianças ugandesas. Joseph Kony é líder do Exército de Libertação do Senhor (LRA), responsável pelo conflito no norte do Uganda que resultaria na mutilação de muitos jovens, execuções, rapazes tornados em soldados e raparigas violentadas sexualmente. A realidade que os três homens encontraram inspirou-os a saberem mais sobre o assunto e a descobrirem que Joseph Kony é mundialmente procurado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional desde 2005.

O projeto “Invisible Children” ganhou vida assim que os documentaristas regressaram aos Estados Unidos da América, onde fundaram uma organização não governamental (ONG). A ação dos californianos passou, primeiramente, por um documentário entitulado “Invisible Children: Rough Cut”, partilhado apenas com familiares e amigos, e, mais tarde, pela criação de uma falsa campanha eleitoral por “Kony 2012”. O vídeo de trinta minutos que deu a conhecer a história de Jacob e das crianças ugandesas apela à emotividade e à envolvência da população mundial na denúncia de Kony. O objetivo é tornar Joseph Kony famoso, não pelos melhores motivos, mas sim para que as pessoas se familiarizem com um nome e uma identidade até agora desconhecidos.

Mesmo assim, o projeto Kony 2012 está a receber muitas críticas por se considerarem alguns dados manipulados ou por ser considerado um falso interesse. Muitos críticos acusam o documentário de ter um estilo “hollywoodesco”, em busca de um homem que já não é visto no Uganda há mais de seis anos. Também mencionados são os interesses dos EUA no petróleo proveniente do Uganda que poderão estar a silenciar um outro tipo de tortura: a do ditador Yoweri Museveni. Uma outra questão que levanta muitas dúvidas é o destino que a ONG “Invisible Children” dá aos donativos que são feitos em prol do projeto “Kony 2012”.

Certo é que Kony 2012 está a contar com o apoio de pessoas mundialmente influentes. O próprio promotor do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno Ocampo, defendeu, em entrevista à BBC, que é notável a iniciativa de dar voz a pessoas que, de outra maneira, não teriam essa hipótese. Também dois dos criadores do vídeo, Jason Russel e Ben Keesey, em entrevista à CNN, defenderam o seu projeto das críticas ao afirmar que o propósito foi, desde sempre, zelar pelo bem estar das crianças do Uganda e salvaguardá-las dos maus tratos que receberam ao longo das últimas duas décadas.

Mobilizar o mundo

O projeto da Invisible Children pretende que, a 20 de abril de 2012, o nome de Kony seja conhecido por todo o mundo. “Kony 2012: Cover the Night” tem como objetivo colar cartazes da “campanha eleitoral” por todas as cidades, no maior número de países possível. Para isso, está disponível um kit na página oficial do movimento, com posters criados para o evento.

Em Portugal, já são vários os eventos criados no Facebook para concretizar o “Cover the Night”. Além de cidades como Guimarães, Lisboa ou Coimbra, também a cidade do Porto está a preparar o seu manifesto. Inês Machado é a responsável pela página de Facebook que organiza o evento. Viu o vídeo promocional da campanha Kony 2012 por incentivo dos amigos. Assim que viu o trabalho da ONG, Inês afirma que achou tratar-se de uma “campanha bem feita, estratégica, realizada por pessoas que pensaram em tudo”.

O passo seguinte foi criar uma página no Facebook para divulgar o evento. Sucederam-se inúmeros pedidos de amizade e partilhas do vídeo. “De repente, tínhamos cem pessoas a gostar da página e a partilhar. Foi quando pensei que esta era uma causa especial”, explica Inês. Apesar de não ter qualquer ligação à entidade oficial, a jovem decidiu envolver-se no projeto e acabou por criar o evento online “Kony 2012: Cover the Night Porto”, que já conta com mais de 1300 inscritos.

Quanto à controvérsia que tem envolvido o movimento, Inês considera que, como causa universal que se está a tornar, é natural que o tema desperte reações adversas no público e até mesmo na comunidade portuguesa. Inês Machado entende que tal se poderá dever ao facto de existirem outros problemas a tratar no país e esta situação ser “demasiado específica do Uganda”. O que também não ajuda à causa é “a política de gastos da ONG”, que “não é clara” e “levanta dúvidas”.

Por isso mesmo, Inês considera que o evento de 20 de abril no Porto “poderá não ter nada a ver com o Kony”, tornando-se num espaço de reflexão “sobre atitudes a tomar”.