O sindicalismo em Portugal teve início na Revolução de 1820. Em 1872, registaram-se as primeiras greves, nas áreas da fundição e dos gráficos. Com o Estado Novo, em 1933, os sindicatos foram extintos e foi estabelecido o sindicalismo corporativo.

Em outubro de 1970, foi criada a primeira central sindical, a Intersindical, que albergava na clandestinidade cerca de 30 sindicatos. Com o 25 de Abril, a luta pela liberdade sindical, até à altura marca do PCP, tornou-se a bandeira dos partidos democráticos.

42 anos depois, o sindicalismo parece ter perdido algum protagonismo, especialmente junto dos jovens. Mesmo assim, ainda há quem faça parte do movimento sindical e continue a lutar pelos direitos dos trabalhadores.

“Os sindicalizados são vistos como uma ameaça”

Nuno Macário tem 21 anos e trabalha numa grande empresa de comunicações. Faz parte do Sindicato dos Trabalhadores de Telecomunicações e Comunicações Audiovisuais e considera que ser sindicalista é “lutar pelos direitos” laborais, mas também a garantia de ter ajuda em caso de necessidade, funcionando como uma “salvaguarda”.

O também estudante confessa que os incentivos para aderir a um sindicato não são muitos, mas aconselha os jovens a não “estarem à espera que os problemas surjam” para se sindicalizarem. É melhor, diz, procurarem soluções antes de existirem conflitos laborais, até porque é complicado para os sindicatos “saberem que só são procurados quando há problemas” e, depois, “quando os problemas desaparecem, ninguém querer saber”.

O jovem entende que o sindicalismo não é tão comum entre os jovens hoje em dia devido ao trabalho precário e porque “os sindicalizados são vistos como uma ameaça”. No entanto, refere, as pessoas não se sindicalizam para “prejudicar a entidade laboral”, mas sim por motivos de proteção. Mesmo assim, há quem seja “tratado como um ser à parte que pode fazer mal” à empresa, sendo visto como “um alvo a abater”.

“Tornar-se sindicalizado é um risco muito grande, quer se esteja bem ou mal”, diz.

“Estar sindicalizado é tão importante como ter um seguro de saúde”

Débora Vicente Alves é presidente da Comissão de Juventude da União Geral de Trabalhadores (UGT). Em entrevista ao JPN, considera que ser sindicalista é “vestir a camisola em prol de uma causa” e acreditar numa “sociedade mais justa e solidária”. “Estar num sindicato não passa só por bandeirinhas no ar, manifestações e, muito menos, só por greves”, explica.

A atual presidente diz ter entrado no mundo sindical por “convicção”, sem nenhum tipo de influência, visto que não tinha nenhum familiar com ligações ao sindicalismo.

Sobre a situação atual dos sindicatos, Débora Vicente Alves fala de uma necessidade de modernização, com outras formas de chegar às pessoas como as redes sociais, que são muito importantes para os jovens. No entanto, entende que é importante “estar no terreno, estar com as pessoas” e, por isso, os plenários continuam a ser necessários, bem como a utilização de panfletos.

Apesar de ainda existirem “represálias nos postos de trabalho”, “hoje em dia, estar sindicalizado é tão importante como ter um seguro de saúde”, acredita.

Sobre os jovens sindicalizados, Débora considera que “a juventude está a passar por uma fase difícil”, com uma “elevada taxa de desemprego”. “Com o nível de precariedade que a juventude atravessa hoje em dia”, é natural haver “menos jovens afetos aos sindicatos”, diz. Mesmo assim, são muitos os jovens sindicalizados, apesar de ser “matematicamente impossível” de quantificar.