Na maioria dos concertos de música clássica, os espetadores têm oportunidade de escutar a música e observar os movimentos exteriores do intérprete. Contudo, num concerto que resulta de um projeto de investigação da UP, os movimentos da violinista Ianina Khmelik vão ser captados ao vivo e a cores por uma máquina termográfica, capaz de medir a temperatura de várias zonas do corpo humano ou de várias partes de um objeto. Esta avaliação vai permitir a descoberta de possíveis lesões musculares durante a atuação musical da intérprete.

Depois de detetar a radiação infravermelha do corpo, a máquina converte-a numa imagem codificada de cores que corresponde a uma determinada temperatura. Joaquim Gabriel, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e responsável pelo projeto, explica que, desse processo, resulta “uma imagem colorida de acordo com uma escala: a preto a zona mais fria e a branco a zona mais quente.”

Graças a este sistema, os investigadores conseguem aperceber-se das zonas que estão em maior esforço ou que se encontram inflamadas ou com problemas de circulação sanguínea. “Trata-se, no fundo, de perceber como funciona um meio de diagnóstico auxiliar que vem contribuir para um correto diagnóstico de alterações que possam estar presentes nestes músicos, que muitas vezes estão sujeitos a posturas incorretas e à execução de movimentos repetitivos”, refere o professor da FEUP.

Além de contribuir para o apoio de possíveis lesões nos músicos, este trabalho poderá ser útil noutras áreas em que os pacientes sejam submetidos diariamente a uma repetição sucessiva de movimentos. Ao mesmo tempo, diz Joaquim Gabriel, o estudo tem aplicações práticas em áreas não-médicas.

Projeto resulta da parceria entre a FMDUP e a Casa da Música

Esta tecnologia tem várias vantagens, uma vez que tem baixo custo, não utiliza radiações ionizantes, é indolor, não invasiva e não implica o contacto direto com o paciente.

A investigação surgiu no âmbito de uma tese de doutoramento de Miguel Pais Clemente da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP). As lesões músculo-esqueléticas dos músicos servem de base ao estudo. Joaquim Gabriel revela que optaram por escolher um violinista, já que queriam “um instrumentista que fosse particularmente relevante na área de dentária e o violinista faz uso da mandíbula para segurar o instrumento”.

O projeto é da responsabilidade de quatro investigadores: Joaquim Gabriel, professor da FEUP, António Silva, aluno de doutoramento do departamento de mecânica da FEUP, João Carlos Pinho professor da FMDUP e responsável da unidade de oclusão, Miguel Pais Clemente, aluno de doutoramento da FMDUP e Daniela Coimbra da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, e resulta de um protocolo de colaboração entre a Casa da Música e a FMDUP.

No concerto, a violinista Ianina Khmelik vai ser acompanhada pelo DJ IUR com o qual irá ingressar numa viagem que se estende de Bach até ao presente, percorrendo vários estádios de desenvolvimento técnico. O evento é de entrada livre e decorre na próxima quarta-feira, dia 14, às 21h00 no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto.