A dark web é uma pequena parcela que podemos encontrar na parte mais obscura da Internet, uma espécie de “subconjunto da deep web“, como afirma Diogo Gomes, docente no departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro (DETI). A informação aqui encontrada é “propositadamente escondida”, afirma.

Chegar à dark net, como também pode ser conhecida, não parece complicado. Segundo alguns sites, basta ter uma aplicação chamada Tor, que impede que programas como Flash ou Shockwave revelem o IP do utilizador, algo que pode trazer consequências bem graves.

Eduarda Mendes Rodrigues, do departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Engenharia da UP (FEUP), explica: “o que esses serviços tentam fazer é mascarar o endereço do utilizador, que pode ser detetado através do IP”. Acrescenta: “por exemplo, se estivermos ligados a partir de Lisboa, na prática o que acontece é que parece que estamos a ligar da China, ou outro ponto qualquer do planeta”.

Ultrapassado este primeiro obstáculo, conhecendo os sítios e as aplicações certos, podemos aceder às mais variadas informações.

Tudo é possível na dark Web

Variadas é o termo correcto. Desde tráfico de drogas a vídeos de assassinatos em directo, podemos encontrar um pouco de tudo na dark web.

Embora a maior parte da informação encontrada na deep web não seja de todo perigosa, esta parte mais escondida da Internet disponibiliza sites onde podemos, por exemplo, aprender a cozinhar uma sopa de fetos.

É possível assistir a lutas até à morte, até entre homens e animais, algo muito apreciado por milionários que disponibilizam grandes fortunas nestes sites. Vários fóruns servem como troca de ideias para assassinatos ou casos de pedofilia, com imagens e vídeos ilustrativos.

Uma moeda própria

Muitos sites escondidos na deep web incluem a utilização da bitcoin, uma espécie de “moeda virtual” encriptada, gerada na rede através de processadores. Desta forma, não está ligada a nenhum emissor central, o que permite o anonimato dos seus utilizadores, evitando a utilização de contas bancárias.

Eduarda Rodrigues confirma que “a bitcoin é um sistema introduzido para permitir transações que envolvam pagamentos neste tipo de ambientes”. Esta moeda pode ser trocada, entre outras coisas, por drogas ilegais, armas ou até para contratar assassinos profissionais e escravos sexuais.

O “Canibal de Rotemburgo”

Em 2003, o caso do alemão Armin Meweis, conhecido como o “Canibal de Rotemburgo”, ficou célebre. O germânico colocou um anúncio num site dedicado à prática de canibalismo, escondido na dark web, onde procurava um homem que pudesse matar e consumir.

Bernd Brandes respondeu positivamente e Meweis comeu a sua carne durante vários meses. Acabou por ser descoberto pela polícia quando tentava descobrir uma segunda vítima, também na Internet.

Um perigo real?

Estes perigos sempre estiveram associados à Internet, mas parece cada vez mais fácil aceder a todo o tipo de coisas. Isto pode representar um perigo extra para jovens levados pela novidade ou pela adrenalina do risco que certos sites representam.

Ambos os especialistas defendem, no entanto, que não é assim tão simples chegar à dark web. Eduarda Rodrigues diz que “a maioria das pessoas nunca conseguirá chegar a esses sites, até porque existem vários obstáculos, que exigem em muitos casos conhecimentos ao nível da programação e de sistemas informáticos”.

Diogo Gomes utiliza mesmo uma analogia curiosa: “é como pertencer à maçonaria, uma pessoa qualquer não entra para a maçonaria porque sim. É um clube secreto”, remata. O investigador continua: “o objectivo da dark net é mesmo não ser detetada, pelo que o utilizador comum tem se esforçar muito, mas mesmo muito para lá chegar”.

O risco para a população em geral é, portanto, bastante reduzido. E entre pesquisar o horário do próximo comboio no Google ou aprender a cozinhar uma sopa de fetos, ganha o Google.