O concurso “Desafio Urbano”, uma parceria entre o portal Espaço de Arquitectura e a Sociedade de Reabilitação Urbana – Porto Vivo, tinha como objetivo angariar planos de recuperação para três lotes na rua do Souto, na Baixa do Porto.

O arquiteto Bernardo Pizarro Miranda, vencedor do concurso, explica que o desafio do projeto consistia em manter as específicidades morfológicas dos edifícios de maneira a criar, nessa zona antiga, suportes para novas vidas. “Fazê-las apelativas e atrativas para gente nova”, diz.

A obra apresentava, além da degradação da estrutura, algumas problemáticas que dificultavam a tarefa, aumentando o desafio. “É um edifício numa zona bastante degradada e de profunda problemática social”, de dimensões bastante reduzidas e com difíceis acessos, como explica Maria João Patronilho, a arquiteta portuense que alcançou o segundo lugar no concurso.

Além das dificuldades evidentes, o projeto pressupõe a expressão da nova lógica da habitabilidade. “A casa hoje em dia já não é a casa de antigamente. Têm que se conceder flexibilidade e espaço às pessoas para elas próprias poderem estruturar e arquitetar o seu próprio espaço”, refere Bernardo Pizarro Miranda.

A arquitetura para combater o estigma

O arquiteto explica que “o bairro da Sé ainda é muito impenetrável”, apesar de ser muito bonito, e que por isso acaba por “não ser muito vivenciado”, especialmente pelos visitantes. Na opinião de Pizarro Miranda falta ao Porto, especialmente ao centro da cidade, um “choque funcional”, para trazer novas pessoas para mudar as dinâmicas sociais dos bairros “que são muito estigmatizados” por serem “muito conservadores”.

Esta não é uma ideia nova. Segundo o arquiteto, este tipo de projetos que visam combater o preconceito em bairros conhecidos por serem problemáticos já existem no estrangeiro. “É esta a grande operação que ainda não está feita” no Porto, diz.

A questão do “choque funcional”, para Bernardo Pizarro Miranda, é atribuída ao “arquiteto grande”, o qual define como sendo um profissional que envolve as infraestruturas do seu meio “com as pessoas e com as instituições, e que transforma os usos da cidade” de modo a fazer com que os cidadãos a queriam, de facto, usar.

As potencialidades dos antigos centros urbanos

O centro do Porto, bem como o de muitas outras cidades portuguesas, apresenta claros sinais de abandono e degradação e já há vários anos que se fala na reabilitação da zona. “O Porto tem imensas condições para muito trabalho de recuperação e requalificação urbana”, aponta Maria João Patronilho, sublinhando que há muita matéria a trabalhar e que a cidade, por isso mesmo, tem um enorme potencial.

“Há muito trabalho a fazer e, nesta situação de viragem, vale a pena recuperar os centros históricos das cidades e voltar a levar as pessoas a viver no centro, em detrimento de continuar a construir em massa”, reforça a arquiteta. O começo desta renovação começa agora a surgir com “novos projetos muito éticos e muito corretos relativamente à estrutura urbana e à imagem, e acrescentam novidades relativamente ao interior e à habitabilidade desses lotes”, refere Pizarro Miranda.

Dentro do património arquitetónico do Porto, a arquiteta revelou que um dos edíficios com maior degração e potencial para reabilitação é o convento de Monchique. Este edifício em ruínas, junto ao rio Douro, na freguesia de Miragaia, encontra-se atualmente em ruínas. “O convento de Monchique é uma peça que está completamente abandonada e que tem um potencial enorme”, que poderia ser utilzada como turismo de habitação ou como um espaço cultural, explica Maria Joao Patronilho. O imóvel ainda é recuperável e, segundo a arquiteta, é um bom ponto de partida para uma obra de requalificação.