“A crise tem muitas caras. Conheça os números” foi o mote para a Fundação Francisco Manuel dos Santos criar o portal “Conhecer a Crise”.

O portal, dos mesmos criadores da Pordata, disponibiliza 125 indicadores económicos e sociais “capazes de traduzir com mais pormenor a situação difícil que Portugal atravessa”, como se lê à entrada do site.

Outros indicadores estão disponíveis a qualquer utilizador de uma forma simples e direta no portal. “A crise como eu a vejo” é a opção que permite aos internautas criar uma área personalizada com a sua seleção de indicadores. Podem, igualmente, receber alertas sempre que os mesmos são atualizados.

São vários os números e percentagens que concretizam o complicado cenário económico e financeiro português.

Alimentação

“As compras de alimentação tiveram grandes alterações de preços com a subida do IVA e as pessoas queixam-se e denunciam este tipo de situação, mostrando dificuldades cada vez maiores em pagar as suas contas”, explica Graça Cabral, assessora de imprensa da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO).

No quarto trimestre de 2011, 19,4% do total de consumos correspondia a bens alimentares, o que representa um aumento de 0,8 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo que a procura de marcas brancas nos supermercados aumentou 2,1 pontos percentuais de 2010 para 2011, registando 47,4% e 49,5%, respetivamente.

Os gastos em carne diminuíram mais de 2010 para 2011 do que nos anos anteriores. A taxa de variação homóloga em 2010 registou-se nos 6,3% e em 2010 nos 5,3%. Em peixe gastou-se ainda menos: de 9,4% em 2010 para 3,4% em 2011.

Quanto às bebidas, contribuem com menores valores no total das despesas, passando de 2,4% para 2,2% no caso das alcoólicas e de 4,1% para 3,5% nas não-alcoólicas. No total a taxa de variação homóloga em 2010 foi de 3,2% e em 2011 de -0,3%. As despesas em leite continuam a diminuir. Em 2011, a taxa de variação homóloga posicionava-se nos -2,5%, enquanto que em 2010 o valor rondava os -0,7%.

Ainda no que respeita à alimentação, os gastos familiares no quatro trimestre de 2011 foram superiores aos de 2010. As famílias sem crianças gastaram, em média, 490,9 euros em 2011, mais 13,2 euros do que em 2010. As famílias com crianças conseguiram gerir melhor o orçamento e diminuíram em 18,8 euros as despesas com alimentação, gastando, em 2011, 451,4 euros.

Combustíveis, uma das maiores despesas

A despesa com combustível é outra das grandes preocupações. Em média, os consumidores pagam cerca de 30 euros com cartão por gasolina ou gasóleo de cada vez que abastecem. Em fevereiro de 2012, este valor representou 15,6% no total das despesas.

“Os combustíveis não param de aumentar. Portugal é o pais da União Europeia com os preços mais elevados e é algo que nos preocupa”, comenta a assessora da DECO. A associação de defesa do consumidor tem desenvolvido várias iniciativas para minimizar “a questão, que tem atrapalhado muito a vida dos portugueses”.

Mais preocupações

Mas não é apenas na alimentação e nos combustíveis que os portugueses têm necessidade de cortar. Só no mês passado, a DECO recebeu 425 processos de sobre-endividados, um número que superou os 361 pedidos de ajuda registados em 2011.

“Sente-se cada vez mais que a família comum, a classe média, tem muitas dificuldades em pagar as suas contas e, por isso, temos muitos pedidos de ajuda relativamente às faturas dos serviços públicos de água, luz, gás e telefone”, explica Graça Cabral, acrescentando que “esse tipo de pagamento começa a ser muito excessivo”.

As despesas em vestuário e calçado diminuíram drasticamente, registando uma taxa de variação homóloga de 4,6% em 2010 para -9,1% em 2011.

A cultura e o lazer também já tiveram melhores dias. -11,7% é o valor da taxa de variação homóloga de fevereiro de 2012 que traduz o panorama do último ano: os portugueses frequentam menos restaurantes, cabeleireiros e ginásios, viajam e saem menos à noite e leem menos livros e revistas.

Os números não mentem e o cenário económico atual não é muito positivo, “mas a crise é, muitas vezes, uma oportunidade para as pessoas valorizarem o dinheiro e lhe darem o formato da poupança”, diz Graça Cabral. “É necessário haver um conhecimento prático da poupança para se gerir bem o orçamento familiar e ultrapassar a crise”, remata.