Para quem entra na faculdade, a rapidez e facilidade com que o material está à disposição dos alunos está à “vista” de todos. Ainda que, hoje em dia, já exista um responsável em cada unidade orgânica da Universidade do Porto (UP) para ajudar os alunos invisuais, o apoio “não é o suficiente”. Quem o diz é Ana Cristina Costa, aluna da Faculdade de Letras. A estudante de Estudos Portugueses e Lusófonos é “cega desde nascença” e lida com dificuldades que não estão aos olhos dos outros.

Na UP estão inscritos 20 alunos cegos ou de baixa-visão, nove dos quais estão a estudar na Faculdade de Letras. A falta de apontamentos e de material didático adaptados são as maiores falhas que a estudante aponta. Ana Cristina Costa garante que a entrada na faculdade só dificultou a sua vida estudantil: “se eu já na escola secundária tinha problemas com os livros de estudo, acho que o problema aumentou”, remata.

Maria Alice Ribeiro, responsável do Serviço de Apoio ao Estudante com Deficiência da Faculdade de Letras, reconhece que a falta de material de apoio adaptado às necessidades dos alunos invisuais é a maior lacuna da FLUP, ainda que os apoios prestados variem de caso para caso.

A digitalização dos livros é uma das melhores soluções para o apoio aos alunos cegos. Para Ana Cristina, os livros digitais permitem “marcar frases, sublinhar e, acima de tudo, seguir a aula como qualquer outra pessoa normo-visual”. O feito passa por criar todos os anos um plano onde todos os alunos são convidados ao participar.

“Há pessoas que têm medo de falar comigo porque sou cega”

A integração na sociedade é o desafio permanente da estudande invisual. Ana Cristina Costa conta que alguns colegas têm “medo” de contactar com a jovem “por ser cega”.

A estudante da Faculdade de Letras diz que o primeiro ano foi o mais complicado porque “senti que precisava de ajuda e a maioria das pessoas continuou a caminhar como se nada fosse”, conta.

Segundo a responsável do Serviço de Apoio ao Estudante com Deficiência da FLUP, a Universidade do Porto tenta combater o estigma através de formações e ações para integrar os estudantes invisuais.

Apesar das dificuldades que os alunos invisuais enfrentam diariamente, Maria Alice Ribeiro garante que estão em desenvolvimento “vários projetos de investigação” para colmatar as diferenças entre os alunos. “Queremos um acesso cada vez mais universal para que (a comunidade académica) possa utilizar todos os serviços”, remata.