Tudo começou há um ano. Na sequência da Primavera Árabe que abalou os países islâmicos, o povo sírio decidiu revoltar-se contra o regime ditatorial de Bashar Al-Assad. O presidente sírio ordenou, de seguida, uma dura repressão destes levantamentos que resulta, de há 12 meses para cá, numa chacina de civis líbios.

A intervenção estrangeira foi vetada na ONU com os votos contra da Rússia e da China. “A Rússia como o China têm problemas internos e não consideram legítimo a comunidade internacional realizar uma mudança de regime”, explica Ana Santos Pinto, docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). A professora argumenta que a única hipótese de fazer cair Al-Assad é criando fraturas entre os seus apoiantes.

Um envolvimento estrangeiro na Síria pode revelar-se custoso para estes países. De acordo com Ivo Sobral, professor da Universidade Fernando Pessoa (UFP), saiu um relatório que indica que “uma intervenção na Síria levaria a uma perda de dez a trinta por cento dos aviões”. Ana Santos Pinto é da mesma opinião. A especialista recorda que o exército sírio é bem armado, muito devido ao apoio iraniano.

O fim da guerra líbia e a queda de Kadhafi não trouxe paz à Líbia. Na Síria, a situação pode ser ainda mais complexa, com um diversificado quadro étnico, religioso e tribais. Ivo Sobral relembra que existe uma “comunidade tribal de oito milhões de pessoas na fronteira com o Iraque” que, se mal tratados, podem levar a “uma guerra com este país”.

Bahrein: Qualquer semelhança com a Síria (não) é pura coincidência

Também no Bahrein existe um crescente descontentamento com o regime daquele país. A monarquia é cada vez mais contestada e os xiitas, que representam cerca de metade da população, estão revoltados. Contudo, principalmente para os EUA, a intervenção neste país não é desejável. “A comparação entre Damasco e o que acontece no Bahrein é óbvia. O que acontece é que este país é um aliado extremamente importante dos EUA”, explica Ivo Sobral.

A Primavera Árabe tem transformado os países islâmicos. Contudo, tais revoluções, apesar de trazerem liberdade, têm a outra face da moeda. Os especialistas aconselham máximo cuidado aos países que desejam intervir militarmente, até porque não se podem ignorar as implicações económicas. “Queda do regime do Bahrein pode levar a uma desestabilização do Golfo”, revela Ivo Sobral. Golfo esse que é a zona do globo com os maiores exportadores de petróleo.