“Recordo agora com saudade/ Os calhamaços que eu lia/ Os professores da faculdade/ E a mesa da anatomia”, já dizia Vasco Santana. Não só de anatomia, há milhares de estudantes universitários de norte a sul do país. Esta sábado, 24 de março, festeja-se o dia deles. Só na Universidade do Porto são quase 29 mil.

Afinal o que é isso de estudar? Qual é o valor da educação? Um direito por que ainda se luta?

A luta por um direito

O Dia Nacional do Estudante é reconhecido pela Assembleia da República desde 1987, mas foi a crise académica de 1962 que mais incitou os jovens a lutarem por um cumprimento justo do direito à educação. Uma luta que, nem sempre, mereceu o reconhecimento.

Da sua experiencia enquanto advogado, Miguel Barradas Lourenço conclui que a educação é uma luta que tem perdido intensidade do ponto de vista jurídico. “As pessoas lutam pouco. Porque depende muito da sua vontade. Geralmente, as pessoas não tem mais formações porque não querem”. Dá o exemplo da formação profissional que, por lei, é obrigatória por parte das empresas, “mas há trabalhadores que recusam essas formações”, acrescenta.

Ricardo Faria, 23 anos, ficou-se pelo 9.º ano. Aos 17 anos, a escola não era importante e a opção foi abandoná-la. Um abandono de que se arrepende, seis anos depois. “Agora fazia-me jeito ter ido [à escola], porque sem estudos é difícil encontrar emprego e para evoluir no trabalho também é complicado”, reconhece.

Apesar do arrependimento, Ricardo não atribui o abandono ao facto de não gostar da escola. Diz que tinha problemas em casa que não o deixavam concentrar-se nos estudos. Nas consultas de Nuno C. Sousa, psicólogo, psicoterapeuta e psicanalista, esta é uma situação frequente. “Geralmente, dizem que não gostam da escola porque estão transtornados com problemas que têm em casa”, explica.

Maria de Lurdes Correia Fernandes, vice-reitora da Universidade do Porto (UP), acredita que o valor da educação não está em causa. “Sempre houve desistências, mas penso que, em geral, as pessoas dão cada vez mais valor à educação porque é o que lhes permite alterar uma situação desfavorável e criar oportunidades para demonstrar o seu valor”, afirma a vice-reitora.

Marina Vale teve de deixar de estudar no 11.º ano, mas não foi opção sua. Foram as condições económicas, ou a falta delas, que lhe alteraram as perspetivas de futuro. Aos 30 anos, a auxiliar de ação educativa, confirma a opinião da vice-reitora e lamenta não ter podido estudar mais, uma história que não quer que o filho, de cinco anos, precise de contar na primeira pessoa. “Quero que ele faça alguma coisa que o concretize e gostava que ele tirasse um curso. A educação dá-nos outra preparação para a vida, cultura geral, saber estar… Mesmo em termos psicológicos, uma pessoa sente-se mais valorizada”, remata.

Ricardo também já tem a certeza que, um dia, quer que os filhos estudem o mais possível. “Até lhes vou dar o meu exemplo e fazê-los ver as coisas de maneira diferente”, afirma.

Qual o valor da educação?

Para João, nome fictício, que, aos 33 anos, já não aguentava mais a vontade de frequentar uma faculdade e optou por Geografia, o valor da educação tem duas vertentes. “Primeiro, permite-nos conhecer o mundo e, para além de nos transmitir a educação académica, também nos dá educação moral, semelhante à que devemos adquirir em casa”, explica.

Luís Gonçalves, que estudou praticamente a vida toda e agora é investigador na área de Química Analítica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, reconhece utilidade à educação. “Estudar tem-me feito ganhar a vida”, afirma. “Se não estivesse estudado, não teria sido bom aluno e não teria entrado no doutoramento e não estaria agora a ser investigador. Sinto-me bastante bem e estou contente com a opção que tomei”, garante.

“O valor da educação é o valor de nos tornar pessoas muito mais aptas, muito mais preparadas e confortáveis no mundo atual”, afirma a vice-reitora da UP.

Estudar pode, por vezes, ser complicado, mas é uma oportunidade que ninguém quer perder. Um direito que muitos lutaram para instituir e que deve ser respeitado, criando oportunidades iguais, como todos os anos se alerta, a 24 de março, no Dia Nacional do Estudante. Em poucas palavras, Miguel Barradas Lourenço resume o que todos querem dizer: “A educação é importantíssima e constante. Todos os dias aprendemos algo novo”.