Diz-se que o bodysurf nasceu da observação do homem aos golfinhos e, de facto, segundo o professor de matemática e bodysurfer Neville de Mestre, tem uma fórmula matemática em tudo igual à da propulsão destes mamíferos marinhos. Pensa-se que surgiu no Havai e consiste em surfar sem prancha, só com umas barbatanas, que ajudam a dar impulso ao entrar na onda.

José Costa Silva, Augusto Lima e Inês Lamares são dos poucos praticantes desta modalidade no Porto. Além deles, conta Augusto, só as duas irmãs de Inês e um outro amigo de Guimarães é que costumam parar por Leça.

O bodysurf em imagens

Para quem quiser conhecer melhor o bodysurf foi lançado, em setembro de 2011, nos EUA, o primeiro filme acerca do desporto. Chama-se “Come hell or high water”, é de Keith Malloy e será exibido, entre 14 e 16 de junho, no Surf at Lisbon Film Fest. Também Augusto Lima está a realizar um documentário, no qual aborda a modalidade. “Flatlands” está disponível em webisódios na conta de Vimeo do bodysurfer.

José Costa Silva, apelidado de “kamikaze do mar”, já pratica bodysurf há quase quarenta anos. Este conta que começou no Brasil, aos 13 anos, na praia do Arpoador, em Ipanema, e quase tudo o que sabe da modalidade aprendeu por si próprio. Diz José que, em Portugal, apanhou a primeira onda na Costa da Caparica. Durante cerca de quinze anos não praticou o desporto, até chegar a Leça da Palmeira, onde vivia numa tenda na praia e ninguém sabia quem ele era. Conheceu Augusto quando, um dia, o mar entrou pela sua “casa” adentro. Conta que não hesitou em fazer-se às ondas e, a partir daí, adotou Leça como sua.

Augusto Lima iniciou-se na prática do bodysurf em 1998, quando viu “alguém a apanhar ondas só de barbatanas”, relata o bodysurfer. A partir daí, começou a praticar todos os dias. Em abril do ano passado, encontrou Inês e sugeriu-lhe que experimentasse, contam ambos. A surfista, por sua vez, trouxe consigo as duas irmãs.

O excesso de confiança pode ser o maior perigo do bodysurf

Augusto explica que os bodysurfers apanham as ondas “como se fossem com uma prancha”. A única diferença é que não têm “nenhum artifício” que os faça “andar mais rápido que a onda”, ressalva. Usam apenas as barbatanas que, além da impulsão, também lhes dão “segurança de poder agarrar uma onda e poder ir na parede” desta (quando a onda levanta).

José Costa Silva, o mais destemido, admite que há vários perigos na modalidade. Ainda assim, é essa adrenalina que o bodysurfer aprecia. Do lado oposto está Inês, que garante ser “muito prudente”. Já Augusto afirma que o perigo está nas correntes, por não ter nada onde se agarrar. Todavia, o mais perigoso é cair e “bater com a cabeça na areia ou numa rocha”, o que já lhe aconteceu por se sentir demasiado à vontade, admite. Por isso, Augusto confessa que “o excesso de confiança”, associado a “um azar”, é o maior risco.

Quanto à melhor altura para praticar bodysurf, as opiniões dividem-se. Augusto pensa que há vantagens e desvantagens, tanto no verão, como no inverno, pelo que prefere o outono. O bodysurfer explica que há menos gente na praia e “as melhores ondulações são nos meados de setembro e início de outubro”. Já Inês não tem dúvidas: o verão é a melhor altura para se atirar às ondas. “No inverno, há mais tempestade, menos dias em que consigo entrar e o frio é desagradável”, refere. Por seu lado, José diz que a estação do ano lhe é “indiferente”, porque o que importa mesmo é surfar. O “kamikaze” vai “por necessidade” e acrescenta que, “se ficar três dias” sem o fazer, começa “a avariar o sistema todo”.

A modalidade é pouco conhecida em Portugal

O campeonato de bodysurf “mais respeitado do mundo” é o Pipeline Bodysurfing Classic e decorre anualmente no Havai, explica Augusto. Em Portugal, não existem provas de bodysurf. O praticante afirma que a competição mais próxima tem lugar “no norte de França”. Augusto salienta que em nenhum campeonato se atribui um “prémio monetário ou de valor”, pelo que as provas da modalidade são muito respeitadas.

Augusto gostava que o bodysurf fosse um pouco mais reconhecido no país para que quem o pratica tivesse “algum tipo de apoio”. Diz o surfista que “era interessante” serem apoiados com “fatos ou com câmaras de filmar” mas, pela falta de material inerente ao desporto, é difícil encontrar marcas que o queiram patrocinar.

No mar, os bodysurfers sentem-se em casa

Embora Inês não se considere um “golfinho”, a sensação de liberdade é muito boa. Diz a bodysurfer que, quando vê vídeos na Internet, lhe dá “logo vontade” de se “atirar para dentro de água”. Já Augusto diz que ser como um golfinho depende dos dias. “Às vezes sentes-te realmente bem na onda. Noutras, é um caos”, afirma. Quem não partilha da mesma opinião é José. “Sinto-me mais à vontade dentro de água do que fora”, confessa. Por isso, a sua relação com o mar “é o casamento perfeito”. “É que não podia haver melhor mulher na minha vida”, graceja.

O “kamikaze” acrescenta que esta modalidade o faz sentir-se “em paz” e assevera que não há melhor remédio para o stresse. Por isso mesmo, também Inês garante que o bodysurf lhe “equilibra o dia”. Para ela, é um “comprimido de felicidade”. Augusto realça que “é um refúgio” que o faz sentir-se “diferente”. “Se não for ao mar durante alguns dias, começo a ficar deprimido”, reconhece.