No Dia Mundial do Teatro, que se comemora a 27 de março, o JPN foi tentar descobrir em que medida é que os “cortes” na cultura afetam a vida de quem é ator e do que é que esta arte representa na atualidade.

O 50.º aniversário do Dia Mundial do Teatro é marcado pela mensagem de John Malkovich, convidado pela Instituto Internacional de Teatro (ITI), órgão da UNESCO. Na mensagem, o ator faz votos para que a arte do teatro “seja atraente e original”, “profunda, comovente, contemplativa e única” e para que o trabalho de todos os atores possa “superar a adversidade, a censura, a pobreza e o niilismo”. O dia foi também marcado pela concentração do Sindicato dos Músicos, dos Profissionais do Espetáculo e do Audiovisual (CENA) em frente à Assembleia da República, como protesto contra o corte de cem por cento nos apoios a esta arte.

Rosa Quiroga tem 30 anos de carreira e afirma que os cortes significam “a dificuldade com que se vive” e “o reafirmar de uma sociedade que ainda não tem bem presente a importância do teatro”. Admite que é natural que existam cortes no teatro assim como há cortes na saúde, mas que “há coisas onde não se pode cortar porque comprometem o futuro” e que “o teatro é, efetivamente, uma delas”. A atriz estabelece uma comparação com os “países do norte” da Europa e diz que as suas elogiadas formas de estar se devem a “um consumo de arte que faz com que o homem seja melhor”.

Relativamente aos descontos para espetáculos a que os desempregados podem começar a beneficiar, Rosa Quiroga confessa que gostava que as pessoas fossem ao teatro “não porque estão desempregadas” mas que, por outro lado, isso lhes pode abrir a possibilidade de “se ocuparem com uma coisa que as possa fazer pensar melhor sobre a vida”.

Também Alberto Magassela, atuamente um dos protagonistas na peça “Alma”, de Gil Vicente, assegura que os cortes na cultura são “uma agressão brutal” e um ato “vergonhoso”. Mostra-se descontente com a atitude do governo face à pouca importância dada à cultura e define como “lamentável” o facto de “existir alguém que só se lembra do teatro em dias de votos”.

Todos os dias servem para celebrar o teatro

Com 54 anos, Rosa Quiroga diz que, “apesar da crise”, o país vive momentos “felizes” como nunca houve na história do teatro português, devido ao grande número de escolas de teatro, “oportunidades de casas abertas” e às “pessoas voltadas para o teatro”.

Ter um dia que celebra o teatro é ter “um dia que se dedica a uma arte maior” e, igualmente, “o dia de uma comunidade se juntar e fazer uma festa”, afirma Rosa Quiroga. Já Alberto Magassena diz que, para os atores, “todos os dias são dias mundiais do teatro”, mas a efeméride é “sinónimo de alegria”. “Apetece fazer teatro desde manhã até à noite”, garante.

O ator fala das dificuldades que esta profissão acarreta, destacando a “vontade própria” de vingar no mundo do espétaculo. “Duvido que haja algum ator que não faça outra coisa para além do teatro”, confessa. Também Rosa Quiroga realça as dificuldades que existem em ser ator em Portugal. “Nunca foi uma coisa confortável, adquirida, no sentido de ter um salário ao fim do mês, o 13.º mês, o subsídio de férias, um horário entre as 9h00 e o meio-dia e as 15h00 e as 18h00”.