No terceiro dia de visita à América Latina, o Papa Bento XVI partiu ontem do México em direção a Cuba. O avião do Vaticano aterrou no aeroporto de Santiago de Cuba, às 20h30 (hora portuguesa), onde o Papa era esperado pelo presidente Raúl Castro, o cardeal Jaime Ortega e Dionísio García, o presidente da Conferência de Bispos Católicos

No discurso de chegada, o Papa fez alusão às dificuldades económicas que se fazem sentir por todo o mundo e afirmou, perante Raul Castro, que esta situação se deve a uma “profunda crise de tipo espiritual e moral, que deixou o homem sem valores e desprotegido” contra a ganância e o egoísmo. Esses valores, referidos por Ratzinger, não não devem ser “manipuláveis por interesses limitados”, mas sim correspondentes “à natureza imutável e transcendente do ser humano”.

O Papa Bento XVI descreveu a situação atual de Cuba como um momento em que o país “olha para o amanhã e para ele se esforça por renovar e ampliar os seus horizontes”, pelo que afirmou levar, no seu coração, as justas aspirações e legítimos desejos de todos os cubanos, onde quer que se encontrem os seus sofrimentos e alegrias, as suas preocupações e desejos mais nobres, e de modo especial dos jovens e velhos, dos adolescentes e crianças, dos enfermos e trabalhadores, dos presos e dos seus familiares, assim como dos pobres e necessitados”.

Na saudação ao Papa, Raul Castro fez uma lista com os resultados conseguidos na revolução cubana e que se centraram nos setores da saúde, da educação e da alfabetização. Castro aproveitou ainda a oportunidade para criticar o poder financeiro e a “potência mais poderosa” do mundo, que tentou retirar a Cuba os direitos “à liberdade, à paz e à justiça”.

No discurso, Bento XVI relembrou a “histórica visita” do Papa João Paulo II a Cuba, em 1998, “que deixou uma marca indelével na alma dos cubanos” e que “foi uma espécie de brisa suave de fresca aragem que deu novo vigor à Igreja em Cuba, despertando em muitas pessoas uma renovada consciência da importância da fé e encorajando a abrir os corações a Cristo”. Ao fazer alusão à semana em que o seu antecessor esteve em Cuba, Ratzinger descreveu-a como uma visita que “reacendeu a esperança e revigorou o desejo de trabalhar corajosamente por um futuro melhor” e que inaugurou uma “nova etapa nas relações entre a Igreja e o Estado cubano caracterizada por um espírito de maior colaboração e confiança”.

Durante o dia de hoje, o Papa Bento XVI tem agendada a celebração de uma missa a céu aberto na praça da Revolução Antonio Maceo, para a qual se espera grande afluência, incluindo 400 cubanos exilados em Miami, nos Estados Unidos. Bento XVI vai ainda realizar uma visita como peregrino ao santuário da padroeira, a Virgem Caridad El Cobre, cuja imagem de madeira foi descoberta há 400 anos por três pescadores – dois índios e um escravo negro – e que é hoje símbolo de liberdade no país. Ainda hoje o Papa parte para Havana, onde será recebido por Raúl Castro, e permanecerá até amanhã.

De acordo com a Comissão dos Direitos Humanos e da Reconciliação foram detidos cerca de 150 opositores antes da chegada do Papa a Cuba, a fim de evitar eventuais manifestações.