“As pessoas também não sabem montar móveis mas vêem as instruções do IKEA e conseguem”. A analogia é feita por Pedro Lobato, do projeto “YouCook”. As comunidades na Internet crescem de dia para dia com blogues, troca de comentários, partilhas ou, maioritariamente, com as redes sociais. O “do it yourself” (faça você mesmo) está muito em voga e é uma tendência que veio para ficar. Os projetos que estão associados à dinâmica de ensinar as pessoas a fazer por elas próprias estão a nascer e a singrar no mercado. O JPN pegou em alguns exemplos do mundo da culinária na Internet e explica, agora, como.

“Sempre foi uma coisa pela qual me interessei porque me tornei vegetariana com 13 anos e, desde então, tive de cozinhar para mim”. Esta é a explicação de Joana Mendes, estudante de 23 anos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), acerca do surgimento do seu blogue “Veggies on the counter”, em 2010.

Ainda assim, as razões são as mais variadas e, no caso de Isabel Rafael, licenciada em Filosofia e autora de “Cinco quartos de laranja”, tudo começou com o livro homónimo de Joanne Harris e a maneira como as personagens se relacionavam com a comida e com a vida.

No entanto, parece comum à maioria dos “foodbloggers” o facto de não se aperceberem, inicialmente, como os seus blogues se vão tornar importantes na sua vida e no dia-a-dia de quem os segue.”Nunca me passou pela cabeça que se tornasse uma coisa tão séria e quando comecei o blogue não havia Facebook nem nada dessas coisas. Eram meia dúzia de pessoas que chegavam e visitavam todos os dias”, afirma a autora de “Flagrante Delícia” , Leonor Sousa Bastos, ex-aluna da Universidade Católica do Porto e pós-graduada em Alta Cozinha.

Contudo, para Pedro Lobato, licenciado em Direito, “o YouCook surgiu porque os tempos mudaram e, nas redes sociais, os vídeos antigos não funcionam, não estão adequados”. Assim, depois de detetado o nicho de mercado, Pedro, em parceria com Sofia Trigo Pereira, criou o site que, dizem, é muito mais do que um site de receitas: é uma escola de cozinha online e uma comunidade.

O papel das redes sociais

O início de vida dos blogues é sempre mais complicado porque é preciso utilizar as ferramentas necessárias para se destacarem e, depois, esperar pela resposta dos possíveis seguidores.
Assim, o Facebook é a rede social mais comum entre quem quer divulgar a sua ideia e todos lhe atribuem um papel importante na projeção dos blogues.

“Desde que criei a página nesta rede social, em julho de 2011, os fãs não param de crescer”, admite Teresa Rebelo, licenciada em Comunicação Social e autora do blogue “Lume Brando“. Apesar disso, percebe a necessidade de, tal como Isabel Rafael, explorar outras redes sociais como o Pinterest ou o Google+, uma vez que “há um outro lado do Lume Brando a ser cozinhado”.

Alguns dos “foodbloggers” não vêem grande vantagem nas redes sociais e, no caso de Joana Mendes, aproveita para colmatar essa possível desvantagem com o facto de escrever em inglês para chegar a um público mais vasto.

Há determinadas características que podem influenciar os seguidores do blogue. Se Joana Mendes, por um lado, não dá muita importância a redes sociais e descreve os seus seguidores como sendo, na maioria, norte-americanos (porque nos Estados Unidos da América a comunidade vegetariana é maior, diz), já Pedro Lobato explica que, se não fosse o Facebook, não teriam conseguido “ganhar notoriedade”. Os seguidores do YouCook concentram-se na faixa etária entre os 24 e os 34 anos.

Projeto 4 por 6

A blogosfera culinária comporta um número indeterminado de “foodbloggers”. Por vezes, os seguidores não se ficam pelos comentários e aproximam-se de tal maneira dos autores dos blogues que Isabel Rafael, do “Cinco Quartos de Laranja”, confessa já ter recebido presentes em casa. No entanto, ideias novas podem surgir e a foodblogger fez parte, em conjunto com mais cinco autoras, do projeto “4 por 6”, cujo objetivo era cozinhar para quatro pessoas apenas com seis euros.

Entretanto, o projeto está inativo mas parece haver sempre uma fase em que os blogues ficam “mais de parte” na vida dos autores, seja porque decidem remodelar todos os conteúdos, seja porque decidem esperar um pouco para saber para onde evoluir, já que o mundo da blogosfera culinária parece não ter limites.