“Passos Coelho é o presidente da RTP, como era Sócrates antes dele”. É assim que José Pacheco Pereira descreve a relação de interesses que existe entre a teleovisã pública e o governo. Presente, esta sexta-feira, numa conferência sobre comunicação social, organizada, co curso de Ciência da Comunição pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP), Pacheco Pereira diz ser a favor da privatização da televisão e rádio públicas para evitar a alegada promiscuidade entre governo e órgãos de comunicação pertencentes ao Estado.

O ex-deputado do Partido Social Democrata (PSD), que sempre esteve ligado à política, tendo na juventude pertencido ao PCTP-MRPP, lamenta a promiscuidade que se instalou entre o poder político e o jornalismo. “O jornalismo que temos é muito frágil”, avalia. O social-democrata critica também o pouco jornalismo investigativo existente em Portugal. “O jornalismo independente é pouco querido e desejado, principalmente em tempos de crise”, avisa o também historiador.

Pacheco Pereira relembrou, igualmente, os tempos em que o jornalismo era vigiado pela ditadura e no qual “centenas de milhares de artigos foram censurados”. Falando a propósito do “lápis azul”, o social-democrata relembra tempos em que artigos seus eram proibidos por terem teor contrário ao que era defendido pelo regime salazarista. “A censura moldou a vida dos portugueses durante 48 anos”, recorda.

Dirigindo-se aos futuros profissionais da comunicação social, Pacheco Pereira advertiu-os para os vicissitudes que têm pela frente. “Isto é um mundo selvagem e vocês vão cair nele, deitados de forma muito pouco gentil”, alerta o historiador. O ex-deputado lamenta a cultura que se tem instalado no mundo jornalístico. “São escolhidas as pessoas que fazem menos ondas”, revela.