Longe vão os tempos em que as inovações tecnológicas causavam desconfiança entre novos e
velhos. Hoje em dia, as novas gerações são apelidadas de “nativos digitais” e famílias inteiras unem-se à volta de uma consola. Mas não é bem assim para toda a gente. Se por um lado cada vez mais novos e velhos aderem aos “gadgets”, há também pessoas que têm medo da tecnologia, os tecnofóbicos. Há estudos sobre a tecnofobia moderna, relativa aos computadores, desde os anos 90.

Os tecnofóbicos não são apenas contrários ao uso de tecnologia. Como em outras fobias,
estas pessoas manifestam mesmo sintomas físicos, como ataques de pânico e falta de respiração. Evitam as tecnologias ao máximo, o que inclui, por exemplo, o uso de caixas automáticas de Multibanco. Lídia Craveiro, psicóloga, afirma que não entende que estas pessoas têm uma fobia, mas antes uma “resistência a usar algo que desconhecem e que têm medo de não conseguir dominar”.

Doença ou não, tendo em conta que nos tempos que correm a tecnologia está presente em todo
o lado, sendo muitas vezes a única via possível para realizar certas tarefas, ser-se tecnofóbico pode condicionar seriamente o quotidiano de um indivíduo.

Estar longe das tecnologias: fobia ou dependência?

Em Portugal havia, em 2009, cerca de 16 milhões de assinaturas de telemóvel. E foi em relação ao telemóvel que se começou a falar numa nova fobia, a nomofobia, que vem do inglês “no mobile”. “Nomofobia é um termo que tem sido usado para designar uma fobia ou sensação de angústia quando alguém se vê impossibilitado de contactar ou está incontactável usando o telemóvel”, explica Lídia Craveiro.

Para a psicóloga, o termo foi mal aplicado, pois “se as pessoas sofressem de nomofobia
teriam medo de telemóveis e não medo de ficarem sem eles”. Além de uma má escolha de palavras, Lídia Craveiro considera que não há uma fobia, mas sim uma espécie de dependência, pois o telemóvel “funciona como qualquer adição”. A especialista reitera que, “se observarmos as pessoas na rua, todas ou quase todas têm o telemóvel visível”, mas que, na sua prática clínica, nunca encontrou ninguém que se queixasse deste problema de adição.

“Uma dependência é quando existe um uso excessivo de algo que causa dano à saúde da pessoa e, por consequência, a todas as esferas da sua vida”, explica a psicóloga. No entanto, sublinha não saber se, à semelhança de fobia, o termo dependência é o mais correto e que talvez seja melhor falar-se em “uso excessivo” das tecnologias. A menos que o utilizador
não consiga, de facto, controlar o uso. No caso do telemóvel, o ” único sintoma” da dependência “é estar sempre a olhar para o visor do telemóvel, não se desligar nem um minuto”, afirma Lídia Craveiro. Já a Universidade de Glasgow descobriu que verificar o e-mail constantemente deixa as pessoas cansadas e com falta de produtividade.

O facto de se estar sempre “ligado” pode ter raízes mais profundas e implicar uma necessidade
que não passa necessariamente pela adição à tecnologia em si, mas ao que ela representa,
por exemplo contacto com outras pessoas à distância. A psicóloga faz uma analogia das pessoas que levam o telemóvel para todo o lado com as crianças que fazem o mesmo com um peluche, por exemplo, para se sentirem mais seguras. Na opinião de Lídia Craveiro, “o único comportamento alterado” parece mesmo ser esse, pois se excluirmos isso, estas pessoas “têm uma relação normal com os outros, comunicam-se de forma igual, mas usando mais o telemóvel”.

Adição à tecnologia é “um falso problema”

A psicóloga considera que as inovações criaram sempre “interrogações” ao longos dos tempos,
que estas “polémicas fazem parte da integração” das mesmas e que são as próprias características da tecnologia, como o imediatismo, que levam as pessoas a adquirirem certos comportamentos, num processo natural. “Parece-me é que se está a querer criar uma doença”, afirma, e vai mais longe ao dizer que, em relação à nomofobia, “os media extrapolaram o assunto e criaram uma coisa que não existe”. A especialista questiona por que não se fala, então, da dependência do carro ou de outros objetos.

No entanto, Lídia Craveiro deixa uma nota sobre o assunto, ao afirmar que pode ser bom
para refletir na base educacional dos jovens, no que toca ao uso das tecnologias.
“A vida não se aprende na Internet, mas sim vivendo. Essa é a grande mensagem para os pais
e educadores”, revela.