Tiago Fernandes tem 24 anos e é professor assistente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), instituição onde frequentou o curso de Engenharia Informática. O gosto pelos videojogos, contudo, surgiu muito antes. Aos oito anos sentiu não só a necessidade de jogar como a de criar os seus próprios jogos. Pegou em livros de computação gráfica, aprendeu a programar e rapidamente estava a fazer jogos “para andar a matar coisas”, de plataforma “tipo Super Mário”.

Novo curso de Game Design no Porto

A Alquimia da Cor vai abrir já em setembro uma pós-graduação com a duração de um ano que “visa responder às novas necessidades do mercado emergente de videojogos em Portugal”. Tiago Fernandes será um dos professores, entre os vários especialistas portugueses e estrangeiros, e afirma que não é necessário ter conhecimentos extraordinários para os alunos se candidatarem. “Basta ter gosto, o resto das coisas acaba por vir de arrasto”, garante. Mais informações, aqui.

Depois de alguma experiência, do curso e de vários trabalhos extra, Tiago teve mesmo alguns jogos vendidos para plataformas móveis, mas entretanto dedicou-se ao ensino e a outros projetos. Agora, investiga na área dos jogos para autistas num projeto da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e desenvolve plataformas para outros poderem desenvolver os seus próprios jogos indie.

“Os jogadores apaixonaram-se por estes novos jogos de uma maneira que já não acontecia com os jogos comerciais”, afirma. As grandes editoras e produtoras “começaram a focar-se em jogos com grandes gráficos, uma história imensa mas sem jogabilidade. Entretanto, grupos mais pequenos começaram a criar uma jogabilidade nova e a aplicá-la em conceitos próprios, com um design normalmente muito artístico”, diz.

Paixão pelos videojogos leva equipas a trabalhar sem garantia de sucesso

A Castaway Team é um destes pequenos grupos de pessoas que se conhecem há muito tempo e que partilham a paixão pelos videojogos.
Um dia, decidiram criar o seu próprio projeto. “Nenhum de nós sabia o que estava a fazer”, conta Pedro Cardial, programador da equipa e mestrando em Arquitetura. Começaram com alguns projetos que nunca foram a lado nenhum, até conseguirem o financiamento de uma empresa espanhola.

“A ideia era fazer um jogo casual, muito fácil de jogar e de desenvolver”, conta Pedro. Surgiu o Panic Plane, que se joga só com um botão e foi inspirado no piloto Chesley B. Sullenberger, do episódio no rio Hudson, em 2009. Apesar do Panic Plane ter tido apoio orçamental, ainda que por uma empresa espanhola, o investimento em jogos deste tipo ainda não é muito usual. E ainda assim, apesar deste valor ter sido “a alavanca que permitiu que as coisas realmente acontecessem”, “o orçamento foi muito reduzido para o trabalho desenvolvido e a sua especificidade”, explica Pedro.

Entretanto, o jogo foi posto à venda na AppStore e rapidamente conseguiu o primeiro lugar de vendas da secção “Arcade” e o segundo nas vendas gerais de jogos do mercado português, mesmo não tendo superado as expectativas de vendas. Mas esta decisão de distribuição acarretou consequências.

Apesar da necessidade de criar um “produto fechado e acabado” por ter sido colocado à venda, o que os levou a melhorar muito o jogo, “a AppStore está inundada de projetos desta natureza, muitos de qualidade muito duvidosa e, por isso, as pessoas ficam saturadas e já não vão tanto “à pesca”, explica Pedro.

Apesar das oito semanas de trabalho intenso, durante sete horas por dia sem grande retorno, a paixão mantém-se. Neste momento, a equipa está a desenvolver um jogo de distribuição grátis “só pela vontade de fazer alguma coisa”. Apesar de a empresa ponderar recorrer à nova modalidade de crowdfunding, que tem alimentado muitos projetos do mercado indie lá fora, Portugal parece ainda não estar preparado para receber este tipo de iniciativas. Mas com ou sem grande orçamento, “o interesse é fazer jogos”, garante Pedro.

Notícia atualizada às 15h52 do dia 30 de março de 2012