Em 1974, as Forças Armadas, desgastadas pela guerra colonial decidiram pôr fim na ditadura do Estado Novo, que já durava há 48 anos. Salgueiro Maia foi um dos homens que se rebelou contra o regime. Mas por que é que atingiu este simples capitão uma importância tão grande?

“O Salgueiro Maia estava no local certo à hora certa”, revela Vasco Lourenço, outro dos “capitães de Abril”. O também capitão, para além de estar no sítio onde tudo acontece, manteve o sangue frio e enfrentou a oposição de alguns fiéis ao regime. O capitão conseguiu fazê-lo sem baixas. Salgueiro Maia esteve, igualmente, envolvido noutra situação essencial da revolução dos Cravos, ajudando na negociação da rendição com o então presidente do Conselho e líder do regime, Marcelo Caetano.

Mas, para o historiador Manuel Loff, a particularidade de Salgueiro Maia assenta no facto deste ser apenas um homem comum. “Ele é um símbolo do jovem capitão, cansado da guerra”, explica o historiador. Para Loff, uma das principais personalidades da revolução dos cravos pode ser uma fonte de inspiração. “Salgueiro Maia é a prova que não precisamos de ser excecionais para fazermos a diferença”, acredita.

Apesar de ser uma inspiração para todos, será que Salgueiro Maia ainda se mantém “mediatizável” na atualidade? Para Vasco Lourenço, a alegada pouco mediatização em torno das comemorações é a prova de que “o 25 de abril não vende”. Manuel Loff vai mais longe. O historiador revela que a revolução dos cravos é uma questão fraturante na sociedade portuguesa. “Há quem, na nossa sociedade, não se identifique na forma como o 25 de abril se processou”, finaliza.