José Marques Loureiro, histórico nome da horticultura em Portugal, deu a conhecer, no final do século XIX, que as primeiras camélias chegaram ao Porto entre 1800 e 1810. Apesar de não existirem registos anteriores, várias ilustrações e obras de arte portuenses do século XVII já mostravam a flor, que ainda nos dias que correm aparece em quase cada canto da cidade do Porto.

As “japoneiras”, como são conhecidas no vernáculo português, continuam a ter lugar em quase todas as quintas, parques e jardins da cidade. Desde o Parque da Cidade até à rotunda da Boavista, passando pelo Museu Nacional Soares dos Reis ou pelo jardim da Fundação Serralves, é no Jardim Botânico que a flor recebe maior destaque. Foi lá que o JPN conversou com Estefânia Lopes, bióloga e guia do famoso jardim, que pertence à Universidade do Porto (UP) desde 1951.

De acordo com a bióloga, a camelia japonica chegou ao Porto no séc. XVIII, vinda do continente asiático. “A camélia consegue-se fixar muito bem em locais com solos ácidos e com bastante humidade. Em Portugal, esses locais são apenas Sintra e o norte de Portugal”, avança. Segundo Estefânia Lopes, essa facilidade fez com que todas as quintas oitocentistas do Porto tivessem camélias, que eram símbolos de poder económico e social e que se transformaram também num ex-libris da Invicta.

Para a bióloga, não existe sítio como o Jardim Botânico do Porto para apreciar a beleza da planta. “Temos vários visitantes nipónicos que vêm de propósito e ficam impressionados com a nossa coleção de camélias”, revela. Estefânia destaca o “mais de meio quilómetro de ” presente no Jardim Botânico, o que assegura não ser uma maneira propriamente fácil de criar camélias. “Somos até capazes de ter aqui um recorde do Guiness”, brinca. A bióloga salienta, ainda, as coleções de camélias da Quinta de Villar d’Allen e da Quinta Vilar de Matos, em Vila do Conde.

Inúmeras variedades e muitas potencialidades

No que toca às variedades de camélias que se podem encontrar no Porto e no Jardim Botânico, Estefânia diz ser quase impossível saber todas. “A camélia original deveria ter apenas cinco pétalas”, o que não acontece devido ao “cruzamento de duas variedades que, naturalmente, nunca se iriam cruzar”. Isto acontece porque “os estames transformam-se em pétalas, de modo a diminuir a capacidade reprodutora da planta”. A guia do jardim acrescenta que muitas variedades surgem pelo cruzamento de plantas vizinhas e realça que “o mesmo pé pode dar duas variedades absolutamente distintas”.

Ainda assim, chama a atenção para algumas variedades de camélias presentes no jardim: a “Jane Andresen”, criada em homenagem à avó da conhecida poetisa Sophia de Mello Breyner e produzida pelos extintos viveiros localizados no Mercado Abastecedor; a “D. Pedro V”, criada em honra do príncipe português, primeiro imperador do Brasil; e a “pomponia portuensis”, cujo nome está, obviamente, ligado à cidade.

As camélias têm várias potencialidades, mas é na gastronomia que se podem destacar mais. Além do chá e das compotas, as pétalas da flor são comestíveis e, segundo Estefânia Lopes, já são utilizadas em vários pratos da cozinha gourmet. A bióloga realça o uso da planta na cosmética, relembrando, no entanto, que as camélias do Porto “têm essencialmente um cariz ornamental”.

O Porto tem promovido várias iniciativas para celebrar a famosa flor. Todos os anos existem mostras e exposições sobre as camélias e, em 2014, as cidades do Porto e de Pontevedra unem-se para receber o 28.º Congresso Internacional das Camélias. O arranque do congresso, que deverá receber especialistas de várias regiões do mundo, está previsto para dia 27 de fevereiro no Porto, terminando a 8 de março na cidade galega.