Um grupo de investigadores da Maio Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos da América, divulgou recentemente um estudo em que confirma o café como um aliado no controlo dos efeitos degenerativos da doença de Parkinson. Este estudo não é pioneiro, mas a má reputação do café na saúde humana parece estar a mudar.

Os investigadores norte-americanos utilizaram o vasto registo que têm de doentes com Parkinson, desde os anos 70, e fizeram a comparação com pessoas saudáveis relativamente ao consumo de álcool, tabaco e café. No fim, uma das conclusões “é muito interessante, porque se afirma que as pessoas que bebem mais café têm muito menos probabilidade de desenvolver doença de Parkinson”, diz João Massano, neurologista e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
É possível constatar que, nas pessoas saudáveis, o consumo de café é maior do que nas pessoas doentes e, assim, parece que o café tem a capacidade de proteger os neurónios que produzem a dopamina – substância responsável por estimular o sistema motor – da degeneração.

Contudo, ao contrário do que se pode pensar, não é possível atribuir, com certeza, a proeza à cafeína. “Nós não sabemos se o componente do café que promove este efeito protetor (do processo neurodegenerativo) nos humanos é a cafeína, mas provavelmente até é”, explica João Massano. Além disto, é preciso esclarecer que o café não passa a evitar a doença, “mas parece haver um risco menor”, esclarece o neurologista.

No entanto, este não é o único estudo a demonstrar isto. “Há outros [estudos] com metodologias diferentes e a maior parte está bem feita”, adianta o Massano, pelo que parece estar descartada a hipótese de este ser apenas mais um estudo feito a pensar no sensacionalismo das revistas científicas. “É muito mais fácil uma revista aceitar um artigo que diga isto que um artigo que diga que o café não tem efeito nenhum”, refere.

Assim, do ponto de vista neurológico, o café parece ter efeitos benéficos – sobretudo nos homens – , mas isso não significa que se passe a beber entre cinco a seis cafés por dia, até porque é preciso considerar os efeitos secundários que a bebida tem, as complicações que pode trazer a outros níveis e o efeito aditivo.

Em Portugal não há nenhum estudo a refletir sobre os efeitos do café nos doentes com Parkinson, mas há várias equipas a trabalhar na investigação científica na área das doenças degenerativas. Ainda assim, para os doentes com Parkinson em Portugal – cujo dia se celebra a 11 de abril -, pode ser uma boa notícia o facto de a FMUP estar a testar um medicamento que atua no mesmo alvo que a cafeína.