Foi no dia 11 de abril de 2011 que a primeira equipa da troika chegou a Portugal, após o governo português ter formalizado, cinco dias antes, o pedido de ajuda financeira. Na reunião com os representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), ficou acordado um empréstimo de 78 mil milhões de euros, em troca da redução do endividamento privado e do público.

Um ano depois, a situação económica do país pouco ou nada melhorou. A recessão é mais profunda e o Produto Interno Bruto (PIB) continuou a recuar ao longo de 2011, tendo atingido uma diminuição de 2,8% no último trimestre do ano, face ao período homólogo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Da mesma forma, o consumo privado caiu, nos últimos três trimestres do ano passado, 3,3%, 3,4% e 6,5%, respetivamente.

Por outro lado, a taxa de desemprego chegou, em fevereiro deste ano, aos 15%, atingindo, assim, novos recordes. Com efeito, em abril de 2011, havia mais de 540 mil desempregados inscritos nos centros do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Dez meses depois, em fevereiro deste ano, o número já chegava quase aos 650 mil.

Apenas as exportações não registam agravamentos mas, mesmo assim, estão a abrandar. Por isso, este aumento não será suficiente para compensar a redução do consumo e do investimento, que diminuiu 11,4% no ano passado. As previsões são de que continue a decrescer.

Para 2012, o governo prevê que a economia decresça mais 3,3%, sendo a redução mais forte no primeiro semestre.

Medidas de austeridade obrigam portugueses a renunciar a muitos hábitos

Ao fim de um ano de troika, a lista de medidas de austeridade é extensa. Entre muitas outras, houve cortes nos salários e nos subsídios de Natal e de férias dos funcionários públicos; perderam-se quatro feriados nacionais e três dias de férias; as taxas moderadoras na saúde aumentaram; grande parte de produtos e serviços passou para a taxa de IVA de 23%; também os transportes públicos já sofreram dois aumentos.

Assim, no setor alimentar, as empresas de distribuição registaram uma queda de cerca de 2% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao período homólogo. Em declarações à agência Lusa, a diretora-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), Ana Isabel Morais, disse que o consumidor “tem mais hipersensibilidade ao preço, passou a ir mais vezes à loja e a gastar menos dinheiro”. No setor alimentar, “passou a comprar artigos que substituem a alimentação fora de casa”, acrescenta.

No setor dos transportes públicos, houve uma reforma profunda. Além dos dois aumentos de preço, acompanhados pela redução do desconto de 50% para 25% nos passes para estudantes e idosos, outra medida anunciada passa pela reestruturação da oferta e fusões de várias empresas.

A Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) perdeu, em 2011, 800 mil passageiros (0,8% face a 2010). Pelo contrário, a Metro do Porto registou um crescimento de 4,1%.

Também no setor da cultura, os valores não mentem. Segundo dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), em 2011, as salas de cinema perderam cerca de 852 mil espetadores, relativamente ao ano anterior, o que resultou numa quebra de 2,3 milhões de euros de receita bruta de bilheteira.

Já a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) admite uma queda na casa dos 15% na venda de livros, no primeiro trimestre deste ano. Apenas os museus verificaram o aumento de visitas, de acordo com o Instituto dos Museus e da Conservação (IMC). Segundos dados oficiais, estes receberam mais de 2 milhões de visitantes em 2011, registando um aumento de 5,1% face a 2010.