Os franceses vão às urnas no próximo dia 22 para escolher o seu futuro presidente. Em cima da mesa estão temas como a imigração e a política externa, sendo este último o que mais preocupa os líderes da União Europeia. Caso o socialista François Hollande seja eleito, isto não deverá afetar as suas relações com Angela Merkel, chanceler alemã, apesar de serem de “famílias políticas” diferentes. Esta é a opinião de Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), que dá exemplos de bons “casamentos” políticos no passado, como “Helmut Kohl e François Mitterrand e, mais recentemente, Jacques Chirac e Gerhard Schröder”.

Apesar de observar a questão de um ângulo diferente, Maria Outeirinho, especialista em Cultura Francesa Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) também concorda com Carlos Gaspar. “As políticas externas dependem pouco das pertenças ideológicas dos presidentes, tendo a ver, essencialmente, com dinâmicas e processos económicos”, argumenta. Apesar de achar que há “uma necessidade de repensar a Europa”, tal processo não depende só da França, mas também da “sua concertação com a Alemanha”.

Temas internos também marcam as presidenciais

Apesar da política externa ser bastante valorizada, os franceses não se desligam da política “caseira”. Temas como a crise económica e a imigração estão presentes no dia-a-dia dos franceses, tendo em conta episódios como os assassínios perpretados pelo islamita radical Mohammed Merah e a perda do triplo A retirado à economia gaulesa pelas agências de rating. Segundo Maria Outeirinho, há “algum descontentamento” que se prende com a “crise económica” e com “a presença de comunidades migrantes que não têm uma boa integração”.

É essa mesma crise étnica que tem preocupado alguns setores mais conservadores da população francesa e que tem levado a um aumento eleitoral da extrema-direita, personificada na figura de Marine Le Pen. Todavia, os especialistas ouvidos pelo JPN não acreditam numa surpresa vinda desse campo político. Carlos Gaspar rejeita que o “extremismo esteja na moda”, como demonstram os “limites claros da votação, quer em Marine Le Pen, quer em Jean-Luc Melenchon”, sendo este último o representante da extrema-esquerda.

Quanto ao balanço político dos cinco anos de governação Nicholas Sarkozy, os académicos ouvidos pelo JPN são bastante críticos. A especialista em cultura contemporânea francesa, Maria Outeirinho, revela que os franceses “não estão satisfeitos” devido a questões, como a “coesão social”, que não se encontram “resolvidas”. Carlos Gaspar aponta a gestão económica como o grande “pecado” da administração Sarkozy. O investigador do IPRI compara o modelo económico francês com o do “governo socialista espanhol ou do governo populista italiano”, baseado na “expansão a crédito” e no excessivo “peso do Estado”.