A era da tecnologia chegou para ficar e, com ela, trouxe os videojogos, com os quais as pessoas dispendem, cada vez mais, o seu tempo. Contudo, os tradicionais jogos de tabuleiro, que obrigam a uma reunião física e real entre os jogadores, ainda fazem o gosto de muitos. O JPN esteve no encontro semanal, no Onda Tropical Burguer, do grupo de boardgamers do Porto e conheceu, ainda, alguns jogadores que, às terças à noite, se reúnem no Breyner 85.

Encontros semanais trazem muita gente ao Onda Tropical Burguer

Na esplanada do Onda Tropical Burguer, no centro comercial Cristal Park, reúne-se, todas as quintas-feiras, a partir das 21h30, o grupo de boardgamers do Porto. Um dos membros mais antigos, João Gonçalves, explica que “este é um grupo informal”, um conjunto de pessoas “que se junta para desfrutar do seu hobby, que é jogar jogos de tabuleiro”.

Encontros nacionais

Tal como no Porto, também por todo o país existem vários grupos informais de boardgamers. João Gonçalves diz que podemos encontrá-los, por exemplo, em Lisboa, Leiria e Coimbra. Os grupos organizam, ainda, encontros nacionais de boardgaming. No Porto, o evento vai realizar-se, este ano, em outubro. Em maio, acontece em Aveiro e, em novembro, em Lisboa. Entretanto, também já se realizou, em Leiria (em janeiro) e em Abrantes (abril). Pedro Silva explica que os encontros nacionais têm como “grande objetivo” a divulgação da atividade, de forma a “levar ao público em geral o que há para conhecer”.

Além dos encontros semanais, também no último sábado de cada mês, o grupo reúne-se desde o início da tarde até à noite. Um outro elemento, Pedro Silva, diz que fazem os encontros mensais “pelo menos há quatro anos”. Já os semanais, “é difícil de determinar” a data, mas sabe que foi “há mais de cinco anos”. “Começou, casualmente, na loja de um amigo, depois acabamos por fundar o grupo, que começou a encontrar-se aqui [no Tropical Burguer], a ter encontros regulares”, conta.

Ambos concordam que o convívio é o mais importante. “É o fator primordial por trás deste meu hobby”, diz Pedro Silva. O “interesse em conhecer jogos novos” e poder “dar a conhecer a outras pessoas” são outras razões que o trazem aos encontros, acrescenta. Por seu lado, João Gonçalves destaca, ainda, “o prazer de jogar”. Além disso, afirma, “é muito mais fácil jogar jogos” que não se tem, sem precisar de os comprar.

O grupo, com cerca de vinte a trinta pessoas, é constituído por pessoas, maioritariamente, na casa dos 30 anos. Ainda assim, João Gonçalves garante que “alguns jovens, estudantes universitários têm aparecido”. É o caso dos membros recentes, Pedro Dias e João Novo. O primeiro conta que encontrou o grupo na Internet, mais tarde leu um artigo onde eram referenciados os encontros e decidiu experimentar. O jovem afirma que “é divertido, o grupo é acolhedor e os jogos tornam-se interessantes”. Pedro Dias incitou o amigo, João Novo, a participar também e este aceitou o desafio. “Acaba por se passar um bom bocado sem se reparar nas horas”, garante.

Todas as semanas se jogam jogos diferentes. Embora alguns sejam “mais habituais”, porque “duram menos tempo e, por isso, podem jogar-se mais vezes”, João Gonçalves ressalva que “existem imensos jogos, de todos os temas, durações e dificuldade“, pelo que há a possibilidade de variar. Como “quem tem jogos, traz“, estes são diferentes todas as semanas. “Se calhar vou jogar jogos que não são meus e outras pessoas vão jogar os que eu trouxe”, conta.

O grupo de boardgamers do Porto procura, agora, “mais apoio oficial” junto da Câmara Municipal do Porto e da Porto Lazer, não só para a divulgação da atividade, como também para arranjar um espaço maior. Diz Pedro Silva que ainda não têm “confirmações absolutas mas parece que as coisas estão bem encaminhadas”.

Pedro Silva deixa, por fim, o convite a quem queira aparecer: “Se puderem vir e se quiserem vir, estamos cá à espera”.

O convívio é a razão que traz os jogadores ao Breyner85

Conhecido pelas suas noites temáticas, o Breyner 85 estreou-se, há dois meses, na noite dos jogos de tabuleiro. Diz o diretor do espaço, David Fialho de Almeida, que a ideia surgiu “pelo facto de que, hoje em dia”, todos estão “muito ligados ao mundo cibernáutico”. Por isso, era “pertinente” mostrar que é possível “estar com uma pessoa do outro lado do mundo a partilhar um jogo”, mas é fundamental que nunca se esqueça “que podemos estar também do outro lado da mesa“.

É, precisamente, esta a principal razão que traz os já habituais clientes e jogadores, José Pestana e Nuno Fernandes, ao Breyner, às terças-feiras. Este último afirma que “é um belíssimo pretexto” para “sair de casa e conviver com pessoas reais, sem estar à frente de um computador”. José, por seu lado, assume-se como um “gamer” dos videojogos mas admite que, “com os fenómenos do Second Life, é tudo tão impessoal, cada pessoa tem o seu avatar, já nada é real”. Por isso, garante, “nada substitui a piada de jogar um jogo entre amigos na vida real”.

David Fialho de Almeida afirma que a maioria dos participantes, tal como acontece no grupo de boardgamers do Porto, tem cerca de 30 anos. A adesão varia, “há dias em que aparece muita gente” porque, durante a semana, nem todos têm “disponibilidade para fazer algo depois do jantar”. Ainda assim, há um “núcleo de pessoas que vem cá regularmente jogar e, volta e meia, aparece gente que nunca cá veio”.

Os jogos mais apreciados são os tradicionais, como Monopólio, Uno, Trivial Pursuit, Party&Co e “até há quem jogue xadrez”. David Fialho de Almeida acrescenta que, “às vezes, há até disputa à volta de um jogo”. Todavia, o responsável ressalva que esse facto até “é salutar” porque, “de certa forma, as pessoas vão conhecer outros jogos”. Como os jogos desejados não estão disponíveis, “atiram-se a outros e acabam por gostar”.

Um jogador habitual, José Rui, diz ter gostado da ideia e considera que “já ninguém se junta para jogar Monopólio ou Trivial”. Para o jogador, os jogos “puxam pelo raciocínio”, além de “valorizar imenso a convivência entre as pessoas”.

David Fialho de Almeida confessa que já considerou,”em detrimento de perder alguma força a noite dos jogos de tabuleiro”, passar a disponibilizar os jogos diariamente. Embora não possa prometer, o diretor do Breyner85 refere que a ideia de disponibilizar os jogos e dar liberdade às pessoas para jogar com os amigos, seja a que hora for, está a ser pensada.