Teresa Mesquita tem 46 anos e há 23 que dedica os dias de trabalho à produção de livros em Braille. No dia do livro, Teresa levou o JPN numa visita guiada pelo Instituto São Manuel, o único sítio em Portugal onde se editam publicações em Braille. Unindo equipamentos clássicos às novas tecnologias, o instituto produz livros e revistas, tanto de forma artesanal como de forma informatizada.

Projeto Troque

Com o Dia Mundial do Livro, começa a segunda edição da iniciativa Troque. Até 28 de abril, a Câmara Municipal do Porto promove a troca direta de livros, com o objetivo de levar a leitura a todos os cidadãos. Assim, é possível deixar os livros que já leu e levantar outros sem quaisquer custos em vários pontos da cidade: Dias 23 e 28 abril, nas bibliotecas Almeida Garrett e Municipal do Porto, na Casa do Infante, na Casa Museu Guerra Junqueiro, no Museu Romântico da Quinta da Macieirinha e no Museu do Vinho do Porto. Para além das bancas dedicadas aos adultos, os mais novos terão ao seu dispôr bancas destinadas à literatura infanto-juvenil. Para conhecer o programa de toda a semana, aqui.

Com duas revistas próprias produzidas de forma artesanal, a Poliedro e a Rosa dos Ventos, a instituição mantém um público fiel e estas obras só chegam às mãos dos leitores através de subscrições e pedidos especiais. De todos os livros é enviada ainda uma cópia para todas as bibliotecas do país, já que nas livrarias não se encontram livros em Braille.
Apesar de não ter a “sensibilidade” que uma pessoa cega tem para ler os símbolos, Teresa confessa que “não foi difícil” adaptar-se ao Braille. Agora, demora cerca de quatro dias para produzir uma revista de 50 páginas, enquanto dois dias mal chegam para a edição de um único capítulo de um livro. É um trabalho moroso, mas que Teresa e a sua equipa fazem com dedicação.

Da tradução à impressão, Bernardino, Paulo, Henrique e Elisabete recolhem folhas, cortam papel, revêm, agrafam edições, manipulam impressoras e desenvolvem um número imenso de atividades que só a experiência lhes permite realizar com destreza. Teresa, que diz que “escrever em Braille é como tocar piano”, por causa da coordenação exigida, acredita que a “essência do Braille está na produção de livros à maneira antiga” e considera que o seu trabalho “não podia ser mais cativante”, já que está a fazer “algo útil” que a “educa” e é “bom para toda a gente”.

Os cegos também leem cada vez menos

Apesar de já terem editado cerca de 12 livros desde setembro do ano passado, Teresa diz que os pedidos têm diminuído. Enquanto as revistas chegam aos mil exemplares por mês, muitos cegos preferem os livros áudio, que muitas vezes podem descarregar da Internet gratuitamente, aos livros em Braille. Para além da facilidade em adquiri-los, os livros áudio permitem ao leitor fazer qualquer coisa enquanto os ouve. “É muito mais fácil”, diz Teresa, “mas os que começaram a ler já não param. Ganharam o gosto pela leitura”. “A camada mais jovem é que não lê tanto. Por isso, também dá muitos erros. Um cego precisa de ler para conhecer as palavras”, afirma. Até hoje, a saga Harry Potter foi uma das mais vendidas do instituto.