O 25 de Abril deste ano adivinhava-se “quente” e com os nervos à flor da pele. Contuno, o que à primeira vista parecia um cenário inevitável, tendo em conta o que se tinha passado na Fontinha, não se verificou. A reocupação da escola já estava organizada e pronta para coincidir com as comemorações do feriado. Tudo começou às 15h00, na praça da Batalha, com os voluntários do Es.Col.A e os moradores da Fontinha a juntarem-se à panelada do 25 de abril. O protesto desceu depois até à Câmara Municipal do Porto, chegando até à porta do edifício, numa altura em que o ambiente se começou a agitar na praça da Liberdade.

Na avenida dos Aliados, todos pararam para ver a manifestação organizada em prol do projeto Es.Col.A. Muitos populares aplaudiam efusivamente, sendo que alguns se mostravam solidários com o movimento. É o caso de Teresa Medina. A popular assegurava que a população da Fontinha tem os “valores de abril presentes”. “A câmara do Porto é que não”, ressalvou. Agostinho Neto partilha da mesma opinião. Apesar de reconhecer que conhece o caso da Fontinha apenas pelo que viu nos media, o popular é da opinião que “a Câmara Municipal não agiu bem”. Agostinho Neto aproveitou ainda para apelar “ao investimento na educação”, sendo para o mesmo a única maneira de “combater a ditadura do grande capital”.

Aproveitando o dia 25 de abril estava o vereador da CDU, Pedro Carvalho. Interpelado pelo JPN, o comunista acusou a CMP de desrespeitar os compromissos assumidos. “A CDU apresentou uma proposta no passado dia 13 de março, que foi aprovada pelo executivo municipal, em que o mesmo se comprometia em dar continuidade ao projeto da Fontinha e em suspender o despejo”, revela Pedro Carvalho. Para o vereador, este era um assunto que a CMP devia ter tratado com cuidado e que “descambou” por “não haver interesse político”.

Cerca de mil manifestantes em desfile rumo à Fontinha

À medida que o tempo passava, mais manifestantes se juntavam às centenas de pessoas que já estavam nos Aliados.O grupo decidiu desfilar, depois, em volta da CMP – não sem antes deixar um recado na porta do edifício camarário -, recebendo muitos aplausos por parte dos presentes nas comemorações do 25 de abril e ganhando cada vez mais gente, que se manifestavam das mais diversas maneiras. Já quando voltavam para a frente da câmara, chegou uma carrinha equipada com colunas e instrumentos e um largo grupo de percussão, animando cada vez mais esta manifestação que se transformou numa festa. A carrinha acabou por parar em frente à estátua de Almeida Garrett e foi o palco de um concerto improvisado.

Utilizando megafones, os voluntários acompanhavam a banda, que tocava temas do cancioneiro popular português, com as letras alteradas para celebrar o movimento Es.Col.A. Cada vez mais pessoas se juntavam em volta e nem alguns minutos de chuva as demoveu. Às 17h00, uma hora antes do previsto, o cortejo saiu dos Aliados rumo à Fontinha. A força policial destacada limitou-se a colaborar com o protesto e a sua única preocupação foi gerir o trânsito à medida que os manifestantes passavam. O grupo, que parecia aumentar a cada minuto, fez o percurso em menos de meia hora, galvanizado pelos cânticos e pela música que continuava a vir da carrinha.

Os manifestantes seguiram pela rua Gonçalo Cristóvão e pela parte aberta ao trânsito da rua de Santa Catarina. Quanto mais perto estavam da escola, mais o seu entusiasmo crescia. Alguns manifestantes preferiram apresentar-se de cara tapada, por máscaras ou gorros. O grupo era já de cerca de mil pessoas quando chegou à antiga primária. Os primeiros a chegar saltaram prontamente os portões da “sua” casa, colocando em êxtase todos os manifestantes.

Num momento de muita emoção e felicidade entre os voluntários do movimento, o portão da escola foi aberto a todos e, rapidamente, o espaço mostrou-se demasiado pequeno para albergar o milhar de pessoas que quis participar na reocupação da escola da Fontinha. No meio de gritos como “a escola é nossa“, vários jovens conseguiram subir à varanda do edifício, enquanto várias pessoas começaram a remover à força as chapas utilizadas para barrar a entrada no interior da escola.

“O caminho faz-se caminhando”

José Rocha assume-se de forma descomplexada como anarquista. O homem, de meia-idade, barba cerrada e cabelo despenteado é um dos impulsionadores do movimento Es.Col.A. O anarquista não avançou, contudo, qualquer previsão quanto ao que se passará nos próximos dias. “A Assembleia Popular é que vai decidir isso”, afirma. Outra das integrantes do movimento, que não quis ser identificada, tem uma opinião semelhante. Para ela, a opinião da Assembleia Popular é soberana. O desejo de ambos é que a “moda” de ocupação de “espaços devolutos” pegue. José Rocha afirma “não ter que se inventar nada de novo”, visto que estas ocupações eram usuais nos tempos do PREC.

O projeto da Es.Col.A deixou de ser para estes manifestantes um simples empreendimento. A dimensão política atingida pelo grupo de ocupação leva-os a sonhar com um democracia mais justa. Apesar de a Es.Col.A contar com o “contributo de várias forças políticas de esquerda e extrema-esquerda”, esta mantém-se “apartidária”. Contudo, o projeto de democracia direta parece estar a brotar neste bairro do Porto. Qual é o caminho para a tornar mais alargada? José Rocha não sabe a resposta. “O caminho faz-se caminhando”, diz

Es.Col.A em mau estado e culpabilização de Rui Rio

O interior da escola pôde, então, ser visitado por todos os que lá estavam. As instalações apresentavam-se em mau estado, o que muitos alegam ser a ação policial resultante do despejo do passado dia 19. Lá fora, o ambiente continuava a ser de muita festa, com os bombos sempre a tocar e muitos gritos por liberdade e pela reocupação da escola. A última das chapas foi arrancada a muito custo e depois de muitos gritos de incentivo por parte dos presentes, provocando gáudio geral.

Pelo meio, alguns insultos a Rui Rio e vários discursos ao megafone, quer de voluntários a agradecer a presença de tanta gente e a exaltar a democracia, quer de moradores que se mostraram sensibilizados pela mobilização popular.

Depois, muita gente continuou na escola. Apesar de admitirem que podiam ser incomodados logo de manhã pela polícia, os voluntários decidiram fazer um churrasco e uma festa na Fontinha.