De tratamentos de quimioterapia a questões de vaidade, são muitas as razões que levam homens e mulheres às lojas de perucas, que podem ir dos cem aos mil euros. O JPN foi conhecer melhor todo o processo.

Na Cabelos&Extensões, na rua Sacadura Cabral, no Porto, passam diariamente todo o tipo de pessoas. São artistas, transformistas, clientes insatisfeitos com cortes ou pinturas, mulheres que querem ter cabelos diferentes todos os dias e doentes que passam por tratamentos de quimioterapia.

Ana Carvalho, empregada da loja e a trabalhar na área há três anos, diz que as razões de cada um são muito diferentes. “Há quem recorra a perucas para espetáculos de teatro ou ballet, por questões estéticas ou até por problemas de saúde. Seja má massa de cabelo, uma textura indefinida… a melhor maneira de ter o cabelo bonito é encaixando extensões”, afirma. Mas as extensões acarretam um custo. 100 gramas de cabelo podem chegar até aos 200 euros.

Quanto às perucas, as opções de formas, texturas e cores são muitas. No entanto, “tenta-se sempre procurar o mais natural, o mais parecido com o que a pessoa tinha anteriormente”, exceto quando é para espetáculos, em que se adapta à personagem, e para transformistas, que normalmente procuram “perucas compridas e o que for mais extravagante”. A maior dúvida reside na escolha entre o cabelo postiço o cabelo humano, e a maior parte das vezes “nem depende do preço”, se bem que “para se ter cabelo é preciso muito dinheiro”. Uma peruca de cabelo verdadeiro pode ir dos 600 aos mil euros, dependendo do comprimento, e uma sintética varia entre os 100 euros e os 400 euros.

Escolher entre cabelo sintético e cabelo humano

“Normalmente, as pessoas preferem as sintéticas por serem situações provisórias, além de ser muito mais prático”, diz. Uma peruca de cabelo humano tem de ser lavada, hidratada e seca e, sempre que é lavada, tem de ser ajeitada no cabeleireiro. Já uma peruca de cabelo sintético é lavada em água fria e sacudida. “Quando seca, fica com o efeito de brushing. É como se tivesse ido ao cabeleireiro”, explica.

As perucas de cabelo real são sempre oriundas da Índia, onde “as mulheres têm uma velocidade de crescimento do cabelo cinco vezes superior à das europeias”, explica. Normalmente, as mulheres ou vendem o cabelo diretamente às empresas ou o oferecem em sacrifício aos templos, que o vendem posteriormente. A partir daí, o cabelo é limpo, separado, desparasitado e costurado, até chegar às lojas em coleções, “como a roupa”. Da rockeira à romana, os nomes e estilos permitem uma melhor organização do stock.

Quanto aos postiços, feitos de uma fibra aproximada ao cabelo, o processo é diferente. O cabelo é entregue todo junto e é aí que Ana entra. Separa cabelo por tamanhos, texturas, cores e aspereza, num “trabalho muito minucioso”. “Só depois de separado é que o cabelo é trabalhado, no entretanto não tem utilidade nenhuma”, afirma.

Perucas para todas as idades, por todas as razões

Quando o problema surge devido a tratamentos de quimioterapia, a escolha das mulheres remete para as perucas mais curtas. Posteriormente, não funciona da mesma maneira. Ana diz que “o cabelo normalmente volta a crescer com muita intensidade” mas, depois de tanta espera, as pessoas “não conseguem controlar a ansiedade de voltar a ter cabelos compridos”. As extensões são a única forma de acelerar o processo, mas nem sempre são viáveis. “Para ter extensões é preciso ter cabelo, e quem não tem cabelo tem mesmo de recorrer à peruca.”

Um dos casos de que Ana melhor se lembra foi numa destas situações, em que uma cliente que tinha feito um tratamento de quimioterapia pretendia colocar extensões. “A rapariga veio aqui todos os meses e cada vez que lhe dizia que não rompia em lágrimas. No dia em que foi possível, avancei com a tissagem, um método que consiste em coser o cabelo ao couro cabeludo através de uma trança muito fininha. Assim que acabei, agarrou-se a mim a chorar e disse-me: ‘Tu hoje fizeste-me a mulher mais feliz do universo!'”, conta. “Eu tinha consciência de que as pessoas sofrem muito, mas não sabia que o cabelo mexia tanto com o íntimo da pessoa”, afirma.

Perucas para todas as idades, homens e mulheres

Mas as perucas não escolhem idades e uma das primeiras clientes de Ana foi “uma menina, com uns sete, oito anos, que chegou aqui com os pais arrasados. Eu sei que há muitas crianças a passar por isso, mas uma coisa é saber, outra coisa é tê-las à nossa frente”, explica.

Além das idades, o sexo também parece não importar. Aos homens, Ana já fez muitos capachinhos e diz que também eles são clientes assíduos, mesmo que não sejam “tão exigentes” como as clientes femininas. O que é certo é que, independentemente de quem pretende comprar perucas, “há cada vez mais procura”. “É difícil contabilizar porque é muito relativo, mas vendem-se bem. Há dias em que vendemos três a quatro perucas”, conta Ana.