Os books fotográficos podem ser encarados como forma de materialização e aproximação do sonho de ser modelo. Mas, bastantes vezes, não passa disso mesmo – um sonho. As promessas de emprego e visibilidade não cumpridas por parte de algumas agências deram azo a uma polémica várias vezes noticiada. Junto de profissionais da área da moda, mais do que o que corre mal, o JPN quis saber o que os aspirantes a modelos devem fazer para que as coisas corram bem.

“Acho que é melhor sermos reconhecidos do que conhecidos”, refere Alexandre da Silva. O ator e modelo começou a trabalhar na área da moda há dezasseis anos, “por acaso”, através de um curso que, na altura, lhe custou 300 contos. Com esforço e dedicação, Alexandre construiu uma carreira e sabe que o mais importante é cuidar do corpo e da mente: “comer bem, fazer exercício físico, respeitar os outros e não chegar atrasado”, resume o manequim. O primeiro passo de alguém que deseja ser modelo deve ser “inscrever-se em agências e fazer testes de imagem. O autoconhecimento é importante”, explica.

Um book não é free-pass no mundo da moda

Segundo António Romano, diretor da Central Models, apesar de importante, um book, por si só, não garante sequer uma entrada no mundo da moda, independentemente da qualidade das fotografias. “São uma absoluta ilusão e de nada serve se o candidato a modelo não tiver as características físicas necessárias ao desempenho desta atividade”, esclarece. Para o diretor da Central Models, o portefólio “funciona como um BI, através do qual um modelo é promovido e apresentado aos clientes, e por estes analisado e selecionado ou não”. “Os clientes [conseguem] avaliar a fotogenia dos modelos, a sua experiência e eficiência no sentido de avaliarem quais os rostos indicados para ajudarem a vender os seus produtos”, acrescenta.

Quanto aos custos dos books, os preços variam. Na Act In Models cobram-se 240 euros por um book de 12 fotografias e tratamento de imagem, um CD com a sessão fotográfica completa, a imagem do aspirante a modelo no site e agenciamento direto. Mas, para Nuno Figueiredo, diretor da agência sediada em Braga, “não interessa trabalhar com qualquer pessoa, porque há muitas agências que trabalham só com books fotográficos e depois não arranjam trabalho, assim como pessoas que fazem books e não têm perfil para trabalhar numa agencia de modelos”, refere. António Romano tem uma visão ainda mais restrita em relação aos books pagos: “os books devem ser produzidos pelas agências e em nenhum caso se devem pedir verbas aos representados”. “Esse investimento deve ser suportado pelas agências e depois recuperado através de trabalhos”, defende.

O diretor da Central Models refere que, em geral, tanto jovens do sexo feminino como masculino aspiram a ser modelos, com idades compreendidas entre 15 e os 20 anos. Em Braga, Nuno Figueiredo tem presenciado um fenómeno diferente, havendo cada vez mais rapazes fascinados pelo mundo da moda e com idades a partir dos 25 anos.

Rúben Moreira foi um deles. A moda nunca foi uma paixão, mas a possibilidade de poder ter algumas “fotografias profissionais para mais tarde recordar” despertou-lhe o interesse. Aos 21 anos, o jovem de Setúbal já fez vários books fotográficos, sendo que apenas teve de pagar pelo primeiro. “A partir daí nunca mais me cobraram books, porque quando o fotógrafo gosta, não tem de cobrar por books”, refere. Não estando agenciado por opção própria e porque tem outros interesses, como uma licenciatura em Educação Básica, Rúben teve uma boa experiência com a agência onde fez os primeiros trabalhos. “Sempre foram muito corretos, nunca nos disseram que iríamos vingar. Mostraram-nos que o mundo da moda não é fácil e foram extremamente profissionais”, conta.

Um discurso direto e uma motivação real

E por não ser um mundo fácil, Alexandre da Silva preocupa-se em ter uma conversa sincera com os alunos a quem dá formação na Hopelanda. “O que eu digo aos miúdos é: isto pode servir para vos abrir os olhos, ou pode servir para continuar iludidos.” “Tenho este discurso direto porque tudo na vida só é concretizado com dedicação, embora estes cursos sejam muito vistos como uma forma de autoestima e melhoramento pessoal”, acrescenta.

Na opinião de Mariagrazia Marini Luwisch, psicóloga clínica, nem sempre os books contribuem para um aumento da autoestima, embora estejam diretamente relacionados. “Depende muito da motivação, uns (aspirantes a modelos) podem querer saber o que as pessoas acham deles, outros podem ficar muito frustrados mas, na maioria das vezes, é mais fácil melhorar do que piorar”, refere. Casos em que a autoestima piora acontecem frequentemente porque há um desfasamento entre a realidade e o que as fotografias conseguem fazer acreditar. “As pessoas idealizam que, fazendo um book, vão ter muito sucesso e vão por um caminho fácil de emprego e popularidade e podem sentir-se muito desiludidas quando não conseguem”, explica Mariagrazia.

Alexandre realça a importância da aprendizagem quando se pensa em ser modelo. “Os cursos podem ser benéficos se as pessoas optarem pelo lado saudável da aprendizagem. Hoje em dia, os miúdos têm tanta facilidade que acabam por se desligar do que querem”, afirma. “Eu dou-lhes sempre este exemplo: vocês podem ser conhecidos por dois motivos: ou porque matam a vossa mãe com uma colher de pau, ou porque trabalham durante 20 anos, o que é que vocês querem?”, acrescenta.

Mariagrazia vai ao encontro desta opinião, falando em motivações reais. “A imagem é muito importante, mas não é tudo. Tem de haver uma real motivação e as jovens teem de pensar que o importante é o que elas sabem e aprendem e como se preparam para a vida”, explica. “Às vezes, quando as pessoas se focam na imagem, focam-se de maneira errada”, remata.

Cristina Almeida, 23 anos, é licenciada em Ciências da Comunicação e o exemplo de uma jovem que não descura as capacidades intelectuais em função da imagens que dão forma ao book fotográfico que realizou. “Espero conseguir um acesso mais fácil ao jornalismo televisivo, mas o nível intelectual é muito importante. Acho é que era útil ter umas boas fotografias de apresentação”, esclarece.