Partindo da experiência de estudar no estrangeiro, há quem leve o desafio mais longe e decida ficar no país que os acolheu. O JPN foi conhecer o Ricardo, a Iulia e a Danute, que fizeram de Erasmus um plano para o futuro.

O programa Erasmus, a comemorar 25 anos, já levou muitos milhares de estudantes para viver pelo menos um semestre noutro país, com uma outra cultura e uma outra língua, na grande maioria dos casos. O JPN falou com alguns alunos, para quem a experiência Erasmus abriu as portas de um país que acabou por os acolher.

Da Roménia para Portugal

Iulia, fez Erasmus na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, no 2.º ano de licenciatura. Após ter terminado a licenciatura na Roménia, voltou ao Porto para fazer mestrado.

A jovem de 23 anos explica que, quando decidiu fazer Erasmus, tinha só três escolhas: Portugal, Dinamarca ou Itália. “Dinamarca estava fora de questão desde o início porque era só um semestre e eu queria o ano todo. Entre Itália e Porto escolhi o Porto por ser mais longe de casa e por ter praia, o que me agradava”, assegura Iulia.

No entanto, foi através de ex alunos de Erasmus, que tinham estado na cidade, que Iulia decidiu que estava no rumo certo. “Toda a gente tinha histórias mágicas para contar. Estava mais do que entusiasmada com a cidade. Foi uma componente muito importante para embarcar nesta aventura”, afirma.

Iulia não podia estar mais contente com a escolha. “Superou as minhas expetativas”, garante, acrescentando que acha que o mais especial no Porto “são as pessoas” . “Senti que posso viver cá facilmente. Parece uma cidade bastante grande mas, na realidade, toda a gente se conhece e toda a gente é muito amigável”, revela. A jovem romena reconhece o valor da Erasmus Student Network (ESN) como uma grande mais valia na vida de um aluno Erasmus. “Se não fossem as atividades e as viagens, não tinha metade dos amigos e não conhecia metade das pessoas que conheci”, confessa. A língua não foi um grande entrave uma vez que o romeno é uma língua latina como o português. Por isso, ao fim de um semestre, Iulia já “fazia os exames” na língua de Camões.

Voltar ao Porto foi uma das primeiras opções quando pensou em fazer mestrado. “Tentei ir para mestrado na Holanda, mas não tinha equivalência. Depois pensei: ‘onde é que eu me sinto melhor?’. O Porto tinha tudo o que eu precisava”, afirma. A terminar o mestrado, Iulia não pensa em voltar à Roménia, onde a “situação económica não é muito boa”. “Por agora, estou a tentar conseguir um estágio de um ano na Alemanha. É o momento para mudar um bocadinho de ambiente. Talvez um dia [volte] para o Porto”, afirma Iulia.

Assim, a jovem não tem dúvidas em considerar que o “programa Erasmus abre portas para o mundo inteiro”. “Desde que fiz Erasmus, o mundo parece mais pequeno”, afirma.

Em Portugal para ficar

Danute Lescinskaite, de 24 anos, fez Erasmus em Coimbra, no curso de Relações Internacionais. Natural da Lituânia, Danute escolheu Portugal para fazer Erasmus por uma questão prática. “A minha universidade tinha poucos acordos. Entre Inglaterra e Portugal, por uma questão de dinheiro, sabia que aqui era mais barato, por isso decidi Portugal”, conta.

Danute conheceu uma realidade que não esperava quando chegou ao país. “Pensava que ia ter aulas em inglês, mas era tudo em português. No início, foi um pouco complicado”, relembra. Danute recorda como pensou que, no primeiro semestre, nunca iria aprender português. No entanto, o facto de ter estado um ano em Coimbra permitiu que aprendesse a falar a língua fluentemente.

Depois de terminar a licenciatura na Lituânia, estudar noutro país era um caminho pelo qual Danute queria decididamente enveredar. Após ponderar outras escolhas, acabou por voltar a escolher Portugal porque já tinha aprendido a falar a língua. “Não queria Coimbra novamente e encontrei na Universidade do Porto aquilo que queria, além de já ter amigos aqui”, explica.

Sobre o Porto, Danute acha “que tem muitas coisas para oferecer, principalmente para estrangeiros”. A jovem faz parte do Coro da Universidade do Porto e, por isso, teve que se adaptar às tradições académicas da cidade, que diz serem “únicas”. Trajar foi algo completamente novo, que recorda como um momento de divertimento, com os amigos e a família a comentar que parecia saída de uma história de “Harry Potter”.

Quanto ao futuro, Danute pensa agora ficar cá, dependendo do trabalho que arranjar, devido à situação económica complicada que se vive na Lituânia.

Emigrante de curto prazo

Ricardo Lourenço é natural de Lisboa mas é Roma a sua morada atual. O jovem de 30 anos era estudante de Ciências da Comunicação, vertente de Jornalismo, na Universidade Autónoma de Lisboa quando decidiu embarcar no projeto Erasmus.

Ricardo afirma que o que o levou a ter interesse em fazer Erasmus foi a oportunidade de “mudar radicalmente” de vida. Durante sete anos foi professor numa escola profissional de Lisboa. Ao fim de algum tempo, decidiu mudar e voltar à escola para aprender. Não contente com a mudança, Ricardo quis mais. “Pensei que a mudança deveria continuar, que deveria fazer algo que não pude fazer antes: estudar no estrangeiro”, afirma. Ricardo quis garantir “uma fase nova e única” na sua vida. “Posso garantir que assim está a ser”, afirma.

Roma era a única possibilidade que havia na faculdade de Ricardo. “Nem sequer hesitei, pois não conhecia Itália, nem a língua italiana. Pensei de imediato que seria uma mais valia, quer pessoal, quer profissional na minha vida futura”, considera. Ricardo acabou por se render à cidade e assentar a ideia que já tinha em Portugal – ficar lá. “A ideia surgiu a partir do momento em que me demiti no meu trabalho para entrar nesta nova fase da minha vida. Ir estudar para o estrangeiro implicaria ter um sustento, um trabalho que me permitisse continuar com a minha autonomia”, conta o jovem.

“A cidade de Roma é incrível. Tudo tem história, tudo tem o seu encanto”, explica. Quanto às expetativas de um futuro melhor em Itália do que em Portugal, Ricardo afirma que “as perspetivas de emprego em Itália não são muito diferentes de Portugal: 20% dos licenciados não tem trabalho”. No entanto, acredita que, com esforço e dedicação, será possível ter o trabalho que espera.

Apesar de estar a adorar a experiência, voltar para Portugal é algo que pensa “todos os dias”. “Se as perspetivas no nosso país são más, aqui não são melhores”, confessa Ricardo. “Aprendi bastante com esta experiência. Uma delas é, sem dúvida, dar valor de onde somos, o que nos define”, acrescenta.