Vai de Braga para o aeroporto Francisco Sá Carneiro, ou vice-versa, tem de esperar pelo comboio, trocar para uma ligação de metro ou gastar dinheiro em portagens e combustível, já para não falar no incómodo que causa cada vez que pede a alguém para o ir buscar ou levar. Este cenário parece familiar? A Rui Dias e a Manuel Neves também. Para que todos estes contratempos não passem de meras recordações, os amigos de infância decidiram criar a Get Bus.

“O Get Bus é um serviço que pretende dar uma solução alternativa aos passageiros que chegam ao aeroporto do Porto e querem ir até Braga”, explica Rui Dias. Manuel Neves, 27 anos, parceiro de Rui nesta aventura de transportar pessoas entre o Porto e Braga, recorda-se bem das dificuldades que sentia sempre que partia ou voltava de Manchester, onde se licenciou em Engenharia Automóvel pela Universidade de Bolton. “Muitas vezes, queria fazer uma surpresa aos meus pais e tinha de ligar a um amigo para me ir buscar”, conta.

“Quando tinha um voo às 06h30 e tinha de acordar o meu pai às 03h00 para me ir levar ao aeroporto, era outra chatice”, acrescenta. Habituado à realidade inglesa, onde empresas de transfer low cost não faltam, em Portugal a diferença era gritante. “Sentia-se aqui necessidade disso”, afirma. Rui, a estudar Design de Produto na Central St. Martin’s, em Londres, partiu dessa necessidade e concretizou a ideia, que começou a desenvolver em janeiro de 2011, acabando por responder, igualmente, às necessidades dos outros.

O próximo passo era elaborar um plano de negócio e apresentar o projeto a Manuel que, por constituir a 4.ª geração de uma família dedicada à transportadora Esteves Braga e Andrêa, Lda. (EBA), seria, à partida, um bom parceiro de negócio. Com um plano de negócio que estimava que, de seis milhões de passageiros que aterravam no aeroporto, 800 mil faziam ligação a Braga, Manuel não hesitou. “Ele veio ter comigo e eu, da minha parte, pus logo tudo a rolar, tratei das licenças necessárias para a operação”, recorda.

Arranjaram, também, 100 mil euros de capital inicial e, de outubro de 2011 a janeiro de 2012, depois das licenças estarem prontas, “foi preparar a parte da comunicação, parcerias, adquirir viaturas, tudo aquilo que é necessário para operar”, conta Rui. A 11 de fevereiro, o serviço, da empresa Get Ya, fundada por Rui, estava disponível ao público e a funcionar num escritório que antes servia para despacho na empresa de Manuel e que este cedeu para sede da Get Bus.

Uma ideia bem aceite

“O aeroporto do Porto tem uma área de intervenção bastante grande e há uma série de passageiros que tinha dificuldade em chegar até aos destinos”, refere Rui. Dos cerca de 2.700 passageiros transportados pela Get Bus nos seus dois meses e meio de existência, não há um público-alvo específico. “Do estudante ao viajante independente de baixo custo, ou ao que fica num hotel de cinco estrelas, passando pelo professor da universidade que vai fazer uma palestra noutro país e pelo emigrante, temos tido um pouco de tudo”, afirma o bracarense de 26 anos.

Embora ainda não consiga cobrir os custos, todos os meses há novos clientes e o feedback tem sido bastante positivo em Braga e além-fronteiras. “Há pessoas que nem viajaram ainda mas, por saberem da existência, felicitam a iniciativa. A própria cidade recebeu bem este serviço e as pessoas vêm cá buscar informação para familiares que estão no estrangeiro”, afirma.

Na opinião dos amigos, esta situação acontece porque a empresa responde, de uma forma prática, a uma necessidade de muitas pessoas. Por oito euros pode-se viajar durante cerca de 45 minutos, numa carrinha de dezassete lugares, do aeroporto para o centro de Braga, ou vice-versa. No caso de ida e volta, o preço ascende aos 14 euros, com uma frequência de nove percursos diários de segunda-feira a domingo, feriados incluídos, sendo a primeira às 04h00 e a última às 00h30. O pagamento é feito online.

Rápido, confortável e barato

Além de preços competitivos, esta é uma alternativa vantajosa quando comparada com outros meios de transportes. Vejamos: se decidir ir de carro do aeroporto para Braga, demora cerca de 45 minutos e gasta cerca de 10 euros, repartidos em 2,55 euros de portagem e 7,59 euros de combustível. No caso de Rui e Manuel, este valor teve, muitas vezes, de ser multiplicado por quatro, “porque é preciso ir buscar e levar o passageiro e voltar para casa”, sublinha Rui. Assim, o total ronda os 42 euros, sem contar com parques de estacionamento.

Se optar por ir de comboio urbano, em que o bilhete só custa três euros, prepare-se para demorar mais tempo e ter de sair em Campanhã e apanhar o metro para o aeroporto, o que lhe vai custar 1,80 euros. Se ainda não está convencido, tem mais duas opções: ir de camioneta e depois apanhar um metro até ao aeroporto, o que, ida e volta, vai custar 14,40 euros; ou ir de táxi, sendo que o taxímetro deverá marcar aproximadamente 60 euros quando chegar ao destino. No fundo, como explica Rui, trata-se de “um serviço mais direto”. “Pára no aeroporto do Porto e pára na central de camionagem que fica situada mesmo no centro de Braga.” “No aeroporto, sai do piso das chegadas até ao centro da cidade e quando vem da cidade pára no piso das partidas; assim, os passageiros não têm de subir escadas. É mais prático”, acrescenta.

Para Rui, até agora, esta foi uma aposta ganha e não se arrepende de ter deixado Inglaterra e propostas de emprego na área do Design de Produto para se dedicar a um projeto em que acredita. Já a família e os amigos demoraram um pouco mais a habituarem-se à ideia. “Ao início, acharam uma ideia um bocado louca, mas rapidamente se aperceberam do potencial do projeto e aceitaram a minha decisão”, relata.

O facto de se conhecerem “desde miúdos” contribuiu para que a parceria fosse bem sucedida. “O Rui e eu sempre tivemos uma relação muito próxima, o que ajudou a que isto fosse para a frente, porque havia confiança de ambos os lados”, afirma Manuel. Ainda assim, reconhece algumas diferenças na personalidade dos dois. “Eu sou um pouco mais nervoso, o Rui é mais calmo e, às vezes, consegue gerir melhor uma situação de risco e a lidar com os clientes apazigua mais as situações”, descreve Manuel. “Em termos de organização, somos os dois rigorosos”, acrescenta.

Funções distintas, objetivos iguais

Na empresa, as funções dos amigos são distintas. Rui está encarregue do marketing e comunicação, lidando diretamente com o público e angariando novos clientes, área em que Manuel não interfere. “Se há reclamações ou pedidos dos clientes, eu nem sei. Tudo o que se relaciona com transportes, gasolina, portagens e motoristas é da minha responsabilidade”, sintetiza Manuel.

Quanto ao futuro da Get Bus, avizinha-se risonho. Acordos com hotéis e agências de viagens serão brevemente formalizados e parcerias com outras transportadoras vão permitir alargar os destinos pelo norte e centro do país. A primeira cidade em vista é Guimarães, no ano em que atrai mais visitantes, a propósito da capital europeia da cultura.

Nos próximos anos, os amigos pretendem continuar ligados à empresa. “Espero que, em vez de ter apenas um carro de 17 lugares, consiga pôr lá um carro de 55 ou 60 pessoas”, afirma Manuel. Por sua vez, Rui garante que vai dedicar-se “a isto a 200% e assegurar que os passageiros no aeroporto do Porto têm uma solução alternativa com um custo acessível”, conclui.