São estudantes empenhados, mas não só na Academia, com altas ambições, tanto a nível intelectual como desportivo. São estudantes que, no ensino secundário, aspiram a ingressar no ensino superior, contando com o estatuto de que possuem: o de atletas de alta competição.

Para que possa usufruir de tal condição, o aluno tem de ter aproveitamento escolar, o qual será declarado por um professor, num relatório, ao Instituto do Desporto. Algumas das vantagens de que um atleta de alta competição pode usufruir enquanto estuda passam pela compreensão, por parte dos professores e instituição que frequenta, quanto às faltas ou aos prazos extra para a entrega de trabalhos.

Ser um atleta de alta competição

Considera-se de alta competição a prática desportiva que corresponde à evidência de talentos e de vocações de mérito desportivo excepcional, aferindo-se os resultados desportivos por padrões internacionais (Artigo 2.º do Decreto-Lei N.º 123/96).

Miguel Sousa, finalista de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), e Francisco Fabião, estudante de Belas Artes também na Universidade do Porto (FBAUP), são bons exemplos disso.

Entre os patins do hóquei e a Medicina

Ambos garantem que, acima de tudo, é um reconhecimento do seu trabalho e dedicação e um símbolo de orgulho. Mas a principal vantagem é o ingresso no ensino superior em cursos com média mais alta do que a que, na verdade, apresentam.

Miguel Sousa sempre quis estudar Medicina. Por isso, explica que, no secundário, antes de saber que ia ter estatuto de atleta de alta competição, lutou para obter uma boa média final. Quando soube que ia ter direito ao estatuto, o jogador de hóquei em patins e aspirante a estudante da FMUP, relaxou. “Tranquilizou-me”, garante o futuro médico. “Se soubesse que não tinha estatuto, provavelmente teria abdicado da vertende desportiva, para não desistir da Medicina.”

Com a média com que Miguel terminou o 12.º ano, 17.8 valores, não entraria em nenhuma faculdade de Medicina de nenhuma universidade portuguesa. A diferença, de facto, “não era grande”, como explica, mas o estatuto foi o fator decisivo para poder entrar no curso que queria.

Além de ter faltas justificadas por ter de representar o seu clube de hóquei em deslocações às ilhas ou a competições internacionais, Miguel aponta o facto de, com o estatuto, os exames apenas contarem para a média do secundário e não para o acesso à faculdade. Já os outros estudantes precisam de obter notas altas porque 50% da nota de entrada em Medicina é baseada nas médias dos exames nacionais de Matemática, Biologia e Físico-Química.

O estatuto “é, acima de tudo, justo”

Francisco Fabião é estudante de Belas Artes e, além do vólei, o design de comunicação é uma das suas paixões. Garante que não usufruiu muito do seu estatuto de atleta de alta competição, ao contrário do Miguel. Nunca adiou entregas de trabalhos ou faltou a aulas por ter estatuto. A explicação está no facto de ter parado um ano para se dedicar, exclusivamente, à modalidade que praticava. Atualmente, está parado devido a uma lesão.

O estatuto de alta competição serviu-lhe para entrar no curso que queria e na faculdade que queria, que era o fundamental. Com média de 13,6 valores nunca conseguiria ingressar na FBAUP.

Francisco garante que quase não tinha vida social quando estudava e jogava ao mesmo tempo. Referindo-se ao estatuto, acha que “é uma recompensa que deveria sempre existir”. “Neste momento sei que está muito difícil e quase impossível, até, a atribuição do estatuto de alta competição. Acho que é benéfico e, acima de tudo, justo”, considera.

Miguel Sousa partilha da mesmo opinião, embora acredite que, no curso que frequenta, os estudantes que não tenham estatuto se possam sentir injustiçados. Francisco Fabião defende-se: “eu abdiquei de muitas aulas, no ensino secundário, e fui prejudicado para representar o país, por isso acho muito justo ter este estatuto.”