O ““Boa noite, Vitinho”“, programa cuja personagem principal foi criada por José Maria Pimentel para a empresa Milupa, começou a ser emitido em 1986 pela RTP. Os desenhos animados, que passavam em horário nobre e duravam entre um a dois minutos, foram, até 1997, o marco horário que mandava as crianças para a cama – à semelhança do que aconteceu, mais tarde, com ““Os Patinhos”“.

Ao longo dos 12 anos de emissão, “Boa noite, Vitinho” contou com as vozes de Isabel Campelo, Eugénia Melo e Castro, Dulce Neves e Paulo de Carvalho. O programa foi campeão de audiências e continua a ser um fenómeno da Internet portuguesa: é um recordista de pesquisas, o que levou a Google Portugal a dedicar-lhe um ‘doodle’ na altura do 25.º aniversário, no ano passado. Além disso, a página de Vitinho no Facebook conta com cerca de 82 mil ‘likes’.

A 1 de maio, Dia do Trabalhador, o Canal Q decidiu trazer de novo para a televisão a famosa personagem, adaptada aos dias de hoje e seguindo o mesmo caminho da geração que o acompanhou. O Vitinho é agora Vitó. Tem 30 anos, é um trabalhador precário, ainda dorme com os pais, já aderiu à moda da marmita e, diz a canção, “não ganha para ir trabalhar”. Em vez de mandar as crianças para a cama, Vitó manda os trabalhadores para casa.

O Vitó é da “Geração à Rasca”

Nuno Soares, um dos autores do projeto, explica ao JPN que a ideia surgiu “durante um jantar, quando se falou sobre a hipótese do Canal Q ter uma espécie de Vitinho, ou seja, um conteúdo de entretenimento que funcionasse também como counter horário”. Mais tarde, “surgiu a ideia de que se o Vitinho existisse nos dias de hoje já teria 30 anos e provavelmente faria parte desta geração à rasca de que tanto se fala”.

O ator Jorge Vaz Gomes é quem dá o corpo a Vitó, que trabalha num call-center a recibos verdes, mesmo depois de uma licenciatura, uma pós-graduação e um mestrado. Em menos de um minuto, “Boa noite, Vitó” ironiza as condições de trabalho precário, as greves nos transportes, os estágios pós-universidade e a falta de dinheiro – que é tanta que até os assaltantes ficaram sem “trabalho”.

O objetivo do programa é, “primeiro que tudo, o entretenimento”, garante Nuno Soares. “É uma forma satírica de mandar todos os trabalhadores para casa. Com isso pretendemos fazer uma observação sobre esta realidade socioeconómica, ou seja, uma realidade de jovens adultos que lutam pela sua independência financeira e melhor qualidade de vida”, acrescenta.

“O Vitó retrata uma situação atual que não se passa só em Portugal, mas em muitos países e economias do mundo”, acredita Nuno Soares. “O público que via o Vitinho naquela altura cresceu, estudou, pagou a faculdade e está agora a trabalhar, à procura de melhores condições financeiras e de qualidade de vida. As crianças que o Vitinho mandava para a cama são hoje as que o Vitó manda para casa, às 22h30, no final de mais um dia de trabalho”, diz.

No histórico programa do Vitinho, as vozes dos pais encerravam a emissão com os desejos de boa noite. Já em “Boa Noite, Vitó”, é colocada uma pergunta diferente todos os dias no final do episódio. Na estreia, os pais perguntavam “Quando sais de casa, Vitó?”. O tema de “Boa Noite, Vitó” foi escrito por Ana Magalhães Ribeiro e por Nuno Soares e interpretado por Maria João Diniz. O arranjo musical ficou a cargo de Vítor Rua.