O futebol feminino está, ainda que lentamente, a ganhar terreno em Portugal. Também na Universidade do Porto (UP), o futebol feminino começa a ganhar expressão. A equipa feminina de futebol de 7 existe há dois anos e dá agora os primeiros passos na busca dos títulos.

Miguel Monteiro, do gabinete de atividades desportivas da Universidade do Porto (GADUP), explica que a equipa “treina na faculdade de desporto num único treino semanal”. O objetivo para o qual a equipa treinou durante este ano é a participação no campeonato nacional universitário de futebol de 7, a decorrer esta semana em Coimbra. Esta é a segunda vez que a equipa feminina do GADUP entra no campeonato, com uma equipa que tem apenas dois anos de “idade”.

Miguel Monteiro reconhece que “tem havido um trabalho gradual”. “Começamos no primeiro ano com bastantes dificuldades em formar a equipa”, confessa. No entanto, um ano após o início, há agora uma “formação base”. “As estudantes praticam regularmente e não há falta de jogadoras”, assegura. O objetivo passa, agora, por “aumentar o número de inscritas na modalidade”.

Na equipa, há raparigas de vários cursos, não exclusivamente de desporto, mas sobretudo do pólo da Asprela. No entanto, ainda existe algum preconceito quanto ao futebol no feminino. “Infelizmente, em Portugal o futebol masculino é o desporto rei”, reconhece, pelo que há uma “grande a lacuna entre o futebol masculino e o resto das modalidades”. Mesmo assim, “há cada vez mais uma quebra desse preconceito”, explica, principalmente na faixa etária em que, normalmente, se inserem os estudantes. Por isso mesmo, e com o tempo, vaticina, o preconceito “desaparecerá por completo”.

Quanto a objetivos para a participação no campeonato nacional, a intenção “é chegar ao Europeu, depois de ganhar o nacional”. “É para isso que elas têm vindo a trabalhar o ano todo. Querem representar a Universidade do Porto e Portugal no campeonato da Europa”, diz.

“O futebol é desporto rei em Portugal, mas apenas no masculino”

Rita Martel é atleta da equipa de futebol feminino da Universidade do Porto e também da seleção nacional. O futebol surgiu ainda em criança, quando tinha apenas com 8 anos. “Nasci numa família de desportistas e resolvi iniciar no futebol”, explica. A jovem jogava no Arouca e, aquando da vinda para a faculdade, foi convidada a entrar na equipa universitária, uma vez que os treinadores já a conheciam.

A estudante de História na Faculdade de Letras da UP já praticava originalmente futebol de 11. Agora joga futebol de 7 na equipa universitária e também já jogou futsal, embora considere que não lhe dá o mesmo gozo.”O futsal não me consegue dar o que o futebol dá. Jogamos dentro de um pavilhão, nunca sentimos a chuva, o sol, o campo… é completamente diferente a liberdade”, considera.

Quanto ao estereótipo, Rita afirma que, na sua opinião, “qualquer desporto é para homens e mulheres”. A estudante reconhece que o futebol “em Portugal, está a começar a ser também o desporto ‘rei’ das mulheres”. “Apesar de continuar a haver a ideia de que o futebol é só para rapazes, ela vai deixar de existir gradualmente”, explica.

Rita queixa-se, no entanto, da pouca atenção dos órgãos de comunicação social aos jogos no feminino e da descredibilização, por parte das entidades oficiais, das competições. “Na entrega de prémios para a melhor jogadora do mundo, foi a Shakira que entregou o prémio, uma pessoa que nada tem a ver com o futebol”, relembra.

Esta falta de atenção também se reflete no público, que pouco adere às competições, dando o exemplo da fraca adesão ao Algarve Cup. “No mundial da Alemanha, no ano passado, esgotaram os bilhetes. No Algarve, nem o estádio de Faro, que é pequeno, encheu”, desabafa.

Futebol como hobbie

Já Joana Gonçalves é aluna de Línguas e Relações Internacionais no Instituto Politécnico de Bragança e praticou futebol durante seis anos, dividindo o percurso entre o A.D.C.Frazão e o S.C.Freamunde. A jovem começou a praticar futebol porque, enquanto criança, “jogava muitas vezes com os amigos”. “Quando houve uma equipa na minha terra, aproveitei e entrei”, explica.

Quanto ao preconceito do “desporto para homens”, Joana considera que “infelizmente muita gente ainda tem essa opinião, mas já não é tão acentuada”, já se “vêem mais mulheres a jogar”. Para a estudante, as transmissões televisivas dos jogos, como aconteceu no domingo, com a transmissão da final da Taça de futebol feminino na RTP, são bastante importantes. “Mostra que o futebol feminino também é importante para o desporto português, além de mostrar uma evolução bastante significativa na sua qualidade”, explica. A personalização do futebol feminino seria um ponto positivo para Joana, uma vez que atenuaria “as diferenças entre a classe feminina e masculina”.

Joana acabou por deixar o futebol quando foi para a faculdade, em função das escolhas que teve que fazer. “Não dava para conciliar os estudos com o futebol. Os gastos que teria não compensavam, visto não receber nenhum tipo de rendimento por parte do futebol”, garante.