“Um grande escritor não escreve no vazio”. É esta a opinião de Vasco Graça Moura, reconhecido poeta e ensaísta que, 440 anos depois da primeira publicação de “Os Lusíadas”, decidiu simplificá-la para as gerações jovens. “Lusíadas para Gente Nova” é uma adaptação inovadora da epopeia camoniana, que promete tornar mais simples a leitura da obra por parte dos mais novos.

“Camões é o mais importante autor da língua portuguesa”, acredita Vasco Graça Moura. E, na opinião do autor, isso basta para que a leitura da obra de Camões seja indispensável às novas gerações, até pelos ensinamentos que transmite. “Os estudantes podem retirar de ‘Os Lusíadas’ uma compreensão de Portugal, da sua história e da sua relação com o mundo, e contactar com uma utilização esplendorosa da nossa língua. Além disso, podem perceber por que razão o poema de Camões não é só uma epopeia da aventura marítima portuguesa, mas também um desvendamento do mundo e do conhecimento deste”, salienta o escritor, em entrevista ao JPN.

Devido a todo o valor inerente à obra e ao crescente desinteresse pelos clássicos da literatura portuguesa, Vasco Graça Moura partiu para esta adaptação, que já está nas bancas e que se dirige a um público situado entre os 12 e os 15 anos. Era já uma ideia antiga, “uma espécie de obrigação cívica e cultural”. “Pareceu-me que seria útil fornecer pistas de leitura às gerações mais novas e fazê-lo em termos que, em si, pudessem interessar o leitor”, diz Vasco Graça Moura.

Simplificação em oitava rima

Esta não é a primeira simplificação da obra de Camões e, segundo o autor, “não dispensa a leitura do original”. “Lusíadas para Gente Nova” oferece uma nova perspetiva explicativa da obra: a apresentação de todos os comentários, explicações e interpretações é feita em oitava rima, em estrofes semelhantes àquelas de que se compõe o poema épico de Camões.

Assim, explica o autor, “o leitor não tem perante si um texto em prosa, que perde uma série de qualidades poéticas por muito bom que seja, e fica introduzido numa certa atmosfera e num certo tipo de escrita literária logo desde a primeira linha”.

Por exemplo, na introdução, Vasco Graça Moura explica a estrutura de “Os Lusíadas” da seguinte forma: “Para o fazer, Camões usou a oitava / Que é feita de oito versos a rimar. / Até ao sexto as rimas alternava, / Nos dois finais a rima vai a par. / Com oitavas assim, organizava / Essa história que tinha de contar / Em cantos que são dez e a nós, ao lê-los, / Espanta como pôde ele escrevê-los.”

383 estrofes para aguçar o apetite pelo original

Apesar de se tratar de “uma síntese, uma adaptação ‘antológica’ que reduz a cerca de um terço a extensão total do poema [383 estrofes em relação às 1102 do original] “, Vasco Graça Moura diz ter procurado “manter um encadeamento dos principais episódios e das passagens mais conhecidas”. O autor acredita que o sentido geral e articulação dos episódios fundamentais da narração foram “respeitados”.

“Havendo supressões, é evidente que há muita coisa que fica de fora. Mas espero que o prazer da leitura seja um elemento importante para atrair os leitores, sobretudo os adolescentes, para a leitura do original”, conclui.