O médico anti-social e mal-humorado mais famoso do mundo deixou de fazer parte dos serões de quem gosta de séries. “House” chegou ao fim, depois de oito temporadas, na segunda-feira, 21 de maio, com o episódio “Everybody dies”. A aclamada série, que prendeu os espectadores desde que foi para o ar, em novembro de 2004, foi criada por David Shore e contou com 177 episódios.

Com uma personagem principal perto do anti-herói, “House” conseguiu captar a atenção de muito amantes do que é produzido em Hollywood. Muito do sucesso da série deve-se à interpretação, pelo ator inglês Hugh Laurie, do médico mal-humorado, céptico e distante dos pacientes que se destaca, também, pela genialidade quando é hora de fazer diagnósticos. “House”, que foi inspirada na “Coluna dos Diagnósticos”, da revista do “The New York Times”, que destaca casos médicos anormais, foi a série mais vista do mundo de 2008.

Lançamentos da nova temporada

Com o cancelamento de algumas séries, outras vão sendo lançadas. É o caso de “The Following”, da FOX, um thriller, protagonizado por Kevin Bacon, que conta a história de um agente do FBI que tenta capturar um assassino em série. Mathew Perry, o Chandler de “Friends”, também está de volta com “Go On”, uma comédia que deve estrear entre setembro e novembro deste ano, nos EUA.

O criador de “House”, David Shore, afirmou, numa entrevista, que uma das inspirações durante a construção de personagem foi Sherlock Holmes. De facto, consegue-se detetar algumas semelhanças entre os dois. Desde logo, a morada do médico (apartamento 221B) é o mesmo que o do personagem criado por Sir Arthur Conan Doyle e os dois têm uma dependência: House do medicamento Vicodin e Holmes de cocaína. As personagens partilham, ainda, o poder de observação e dedução para resolver os casos.

A série da FOX já ganhou vários prémios, entre eles Globos de Ouro e Emmys para melhor realizador e melhor argumento. A interpretação de Hugh Laurie também foi galardoada, com dois Globos de Ouro, em 2006 e 2007, de melhor ator numa série dramática e mais algumas nomeações.

Rodrigo Nogueira, editor da secção de televisão Time In, da revista “Time Out”, e cronista do P3, acredita que a televisão tem o papel de “distrair as pessoas” e de fazer “desanuviar depois de um longo dia de trabalho”. No entanto, acrescenta que séries como “House” se esgotam “muito facilmente”, ainda que “os atores e a escrita sejam bons”. O cronista considera que os episódios são “iguais em termos de estrutura e acontece sempre mais ou menos a mesma coisa”. Porém, acredita que é mesmo essa a ideia porque, normalmente, as pessoas gostam do que é “familiar”. Acrescenta ainda que a televisão é um meio “que vive de quem vê” e é “mais fácil cativar espectadores” que já “sabem o que esperar” e vêem as séries “mais ou menos passivamente”.

CSI Miami é a primeira série do universo CSI a ser cancelada

Outra das séries que acaba esta temporada é CSI Miami. Horatio Caine coloca os óculos de sol pela última vez e despede-se dos fãs, depois de 10 temporadas e 232 episódios. CSI Miami faz parte do grupo de séries criminais que tem cativado os espentadores e tem feito sucesso um pouco por todo o mundo. A série norte-americana, que mostra o trabalho de uma equipa de investigação criminal, é um dos “spin-off” da série CSI: Crime Scene Investigation.

Horatio Caine, Calleigh Duquesne, Eric Delko, Alexx Woods e Tim Speedle surgiram, pela primeira vez, em CSI Miami, a 9 de maio de 2002 e, depois de dez anos, a série foi a primeira a ser oficialmente cancelada, no passado dia 13 de maio, pela CBS, enquanto as outras duas foram renovadas.

Apesar de a maioria das técnicas e das tecnologias usadas na série serem corretas e precisas, os escritores admitem que há fatores que não correspondem à verdade, como o tempo que os testes demoram a fazer: na série, testes que, na realidade, demoram dias ou semanas, demoram segundos.

Com uma grande dose de mistério, suspense e ação, a série mantém, na sua essência, a fórmula original. Contudo, há mais envolvimento entre os investigadores e as vítimas do que no CSI original. Ao longo dos anos, CSI Miami recebeu alguns prémios, como o People’s Choice Awards, em 2003, para a nova série dramática de televisão favorita. Ganhou também alguns Emmy, mas sobretudo em categorias técnicas.

Rodrigo Nogueira afirma que as pessoas preferem ver séries que não necessitem de muito investimento “do ponto de vista emocional”, como por exemplo séries como “Os Sopranos” ou “The Wire”, que “tomam mais riscos que as outras”. Contudo, isto também acontece pelo facto de serem séries de canais de cabo, por isso têm outra “liberdade, preocupações e objectivos”. Assim, o cronista defende que as séries não precisam de ser “um sucesso enorme para serem rentáveis”.

Rodrigo Nogueira sublinha, também, o facto de algumas personagens destas séries não serem os heróis, como normalmente acontece. Tony Soprano matava pessoas, era “um mafioso”, e Don Draper, de “Mad Men”, é “um mulherengo (…) e egoísta”. Não é suposto as pessoas “identificarem-se com estas pessoas”, o que não quer dizer que não sejam “interessantes”.

“Donas de Casa Desesperadas” chega ao fim depois de oito temporadas

Donas de Casa Desesperadas” é outro fenómeno televisivo que chega ao fim esta temporada. Susan, Lynette, Bree, Gabrielle e Mary Alice estão no ar desde 2004 e despedem-se depois de 8 temporadas e 180 episódios. A série, criada por Marc Cherry, combina elementos de drama, comédia e mistério, que captaram a atenção de milhões de espetadores. Em 2005, foi uma das séries mais vistas em todo o mundo. Começou por ser uma comédia mas, como foi rejeitada pelos estúdios, foi reformulada e tornou-se uma comédia negra ou um drama, formato que teve sucesso.

A par do sucesso entre o público em geral, a série foi premiada com vários galardões ao longo dos anos em que esteve no ar. “Donas de Casa Desesperadas” foi a primeira série de televisão a ganhar o prémio Screen Actors Guild, para a melhor performance de um elenco numa série de comédia, quando ainda não tinha completado a primeira temporada. Além deste, a série que transportou milhões de espetadores para Wisteria Lane, o bairro onde tudo acontece, ganhou vários prémios, quer para performances dos atores e da equipa quer em categorias técnicas. Entre eles, Emmys, em 2005 e 2008, três Globos de Ouro para melhor série e quatro Screen Actors Guilds, em 2004 e 2005, dois para melhor elenco e dois para melhor actriz (Teri Hatcher e Felicity Huffman).

Ao longo das oito temporadas, houve apenas dois episódios que não foram narrados por Brenda Strong, Mary Alice Young na série. Mary Alice está morta na trama mas narra, durante as oito temporadas, o que acontece nas vidas dos amigos e vizinhos.

Em 2006, surge um jogo, com doze níveis, inspirado na série, distribuído pela Buena Vista Games. A personagem que narra o jogo é a mesma que o faz na série.

Todas estas séries tiveram muito sucesso enquanto estiveram no ar e Rodrigo Nogueira finaliza com a pergunta “porque é que certas coisas são um sucesso e outras não?”, ao que responde que sucesso “não é significado de qualidade”, apesar de considerar que existem ainda séries interessantes, nomeadamente comédias como “Community”, “com densidade”, que “exigem imenso das pessoas”.

No entanto, assegura que as séries “não são assim tão alienadoras”, as pessoas é que “são preguiçosas e gostam de se fingir mais burras do que são na realidade”. Ainda assim, o cronista advoga que “ninguém é automaticamente melhor ou pior pessoa por ver a série X ou Y” e acredita que a “boa televisão ajude muitas vidas”, nomeadamente a “mudar ideias e lutar contra preconceitos”.