As rusgas de São João do Porto são uma celebração musical e teatral que, apesar de festejar o santo padroeiro da cidade, arrasta as celebrações para depois da noite de 23 para 24 de junho. Normalmente, participam entre doze a quinze freguesias. Este ano, esperam-se 12 grupos.

Esta tradição portuense foi recuperada há alguns anos mas remonta a 1957. É baseada nesta época, nos início dos anos 60, em que as rusgas atingiram o sem auge. Ainda hoje as roupas que os participantes utilizam são dessa altura. Os participantes podem ser quem quiserem, desde que retratem os anos 60.

O JPN foi assistir aos ensaios de duas das freguesias participantes: a Sé, das mais antigas a participar no evento e vencedora do ano passado, e o Bonfim, que regressou o ano passado à competição depois de estar ausente durante 20 anos.

O bairrismo e tradição da Sé

É no pavilhão do Vasco da Gama, na zona da Batalha, que a rusga da Sé ensaia. Duas vezes por semana, os campeões de 2011 reúnem-se para serem ensaiados por António Pinto. O responsável diz, este ano, contar com cerca de 300 participantes, sendo que destes “mais ou menos oitenta” são crianças. Nem todos vêm a todos os ensaios, mas o que interessa é que na noite do desfile estejam todos presentes, revela.

À volta do “Sr. Pinto”, como é conhecido, reunem-se várias senhoras, que acertam os passos para a grande noite. Uma delas confirma, ao JPN, que já vive em Paranhos há muitos anos, mas continua a vir para a rusga da Sé. “É a melhor, a mais bonita e é a minha freguesia desde pequenina”, garante.

Maria Angelina sublinha este orgulho, mas também se queixa da falta de visibilidade que o desfile das rusgas tem na cidade. “Da Batalha até aos júris é uma animação”, destaca, no entanto. “Participo porque gosto da minha freguesia, e é um orgulho”, assegura.

Por agora, o ensaio á feito com a aparelhagem o CD, que repete a música a utilizar, vezes e vezes sem conta mas, nos dias anteriores à competição, o rancho já vem ao ensaio para fazer o trabalho “a sério”, conta António Pinto. Toda a gente presente no pavilhão do Vasco da Gama destaca a importância que a rusga tem para a cidade do Porto. “É a tradição”, não se cansam de repetir.

A freguesia da Sé tem dominado as rusgas nos últimos anos e espera não ser este ano exceção. O tema que escolheram para 2012 é o próprio São João.

O regresso do Bonfim

Depois de quase 20 anos de ausência, eis que a freguesia do Bonfim regressou o ano passado às rusgas sanjoaninas. Este ano, o grupo decidiu levar a organização a um nível mais alto, garante: o Sporting Clube de São Vítor, situado na rua com o mesmo nome, é que está encarregue do ensaio.

José Neves, presidente do Clube, chamou ensaiadores e pessoas antigas da freguesia para participarem. Os ensaios, que também acontecem duas vezes por semana (segundas e terças ou quintas e sextas), são pautados pela presença de muitas crianças. Reúnem-se todos na escola da praça da Alegria, mesmo perto das Fontaínhas.

“É aqui que está a origem do São João, nas Fontaínhas”, conta uma senhora presente, a falar da sua freguesia. Durante o ensaio, também se ouvem queixas por causa da falta das câmaras de televisão. “Se passam as marchas de Lisboa, porque não as rusgas do Porto? Não há nada como o São João do Porto, em mais lado nenhum”, dizem alguns, a reclamar por igualdade nas transmissões televisivas.

Com o objetivo de manter a tradição viva, mas também de inaugurar novas parcerias, José Neves conta com a ajuda dos alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), situada ali bem perto, no desenho e construção dos adereços para 2012. O tema anda à volta da cascata de São João, das Fontaínhas, do seminário salesiano e pretende recriar um quadro vivo de Malhoa. A música destaca o mesmo.

Também no Bonfim muitos dos participantes das rusgas (cerca de 200 este ano), já moram noutras freguesias, muitos até já saíram das ilhas da Rua de São Vítor para as casas camarárias, mas ainda regressam para participar, pela tradição e amor à freguesia de origem. “O Porto é isto e temos de defender as nossas tradições. É muito bonito”, disse uma bonfinense, prestes a entrar na rusga. Apesar de serem os homens os encarregados do ensaio, são praticamente só mulheres a participar.

Não precisam de ir todos de igual, só é precisa boa disposição voz afinada e espírito de equipa e de bairro na defesa pelas suas cores. “Na rusga é tudo à balda”, destaca uma moradora da Rua de São Vítor, que, apesar disso, espera que a sua rusga fique “entre os três primeiros” este ano.

O percurso e parcerias

O percurso das rusgas começa na praça da Batalha, passando depois por Santa Catarina, pela rua Passos Manuel, praça D. João I, terminando nos Aliados. Aqui, os grupos atuam individualmente perante um júri. As rusgas vão circular na noite de sábado, 30 de junho.

O evento terá, novamente, a visita do Manobras no Porto, com a iniciativa “Siga a Rusga”, um projeto desenvolvido por quatro companhias de teatro (PELE, Teatro Frio, Erva Daninha, Radar 360º) que vão atuar ao longo do dia e da noite das rusgas.