Todos os anos são inúmeros os peregrinos que iniciam a caminhada com destino a Santiago de Compostela, no norte de Espanha. Os motivos que levam velhos e novos a percorrer quilómetros a pé são variados e muito distintos entre si. Por crença religiosa, em prol de uma aventura espiritual ou, apenas, pelo desafio que representa, são várias as rotas e os pontos de partida que se podem escolher. Os caminhos abrangem quase toda a Europa, sendo que a rota original começa na Holanda, passando por grande parte do continente.

Mariana Ferreira tem 22 anos e fez a caminhada duas vezes, por rotas diferentes. Da primeira vez fez o caminho inglês, a partir de Neda, no norte de Espanha e, na segunda, percorreu o caminho do norte, começando na etapa final do percurso, em Vilalba, e não pensa deixar passar um ano sem “guardar cinco dias para fazer a caminhada”.

Encara a caminhada como uma espécie de desafio espiritual e físico, que lhe permite não só conhecer os seus limites mas, ainda, desenvolver as suas capacidades como voluntária. “É um percurso feito em grupo, com 50 ou 60 pessoas, e a forma como nos desprendemos do nosso conforto pessoal e nos dedicamos ao bem-estar do outro acaba por tornar este caminho tão especial”, explica Mariana Ferreira.

Enquanto Mariana, que faz a caminhada há apenas dois anos, sente que esta é uma parte essencial do ano, Tiago pode dizer muito mais sobre as oito vezes que caminhou até Santiago. Começou aos 16 anos com um grupo do Colégio Luso-francês, onde estudou durante vários anos. Dessas oito vezes percorreu sempre a última etapa do caminho francês, começando pela pequena localidade de Piedrafita do Cebreiro, em Espanha, o que representa cerca de 155 quilómetros. À medida que o tempo passa, os seus acompanhantes vão-se alterando.

Relativamente ao que significa fazer o percurso, Tiago não consegue definir exatamente o que o move. Explica que é uma experiência extremamente pessoal e que nada no seu dia-a-dia se pode comparar às diferentes emoções que sente durante a caminhada. “O momento mais difícil é, sem dúvida, o de voltar e deixar de sentir tudo aquilo que ganhaste e que só percebeste quando chegaste a casa”, tenta explicar. Tiago planeia, agora, uma nona caminhada, desta vez sozinho, partindo da sua casa, no Porto.

Rota Vicentina: Toda a beleza da costa alentejana num só caminho

Com 340 quilómetros de percurso, a rota vicentina permite observar, a quem nela se quer aventurar, a beleza da costa alentejana. O projeto “Rota Vicentina” nasceu através da Associação Casas Brancas, que teve essa necessidade devido à grande procura de caminhos pedestres, em época baixa, por parte de turistas estrangeiros. Para colmatar essa falha, algumas casas desenvolveram caminhos à volta das suas herdades, mas tal solução não era suficiente.

Uma vez que a Via Algarviana estava a ser criada, “achou-se que seria muito interessante tentar reproduzir esse modelo na costa alentejana”, acrescenta Marta Cabral, coordenadora do projeto. A candidatura foi desenvolvida e a iniciativa arrancou formalmente há um ano.

A rota Vicentina é constituída por dois caminhos: o histórico e o trilho dos pescadores. O caminho histórico, que inclui um total de 13 etapas, liga Santiago do Cacém ao Cabo de S. Vicente, percorrendo as principais vilas e aldeias locais. Já o trilho dos pescadores, constituído por quatro etapas, faz-se perto do mar e passa pelos caminhos utilizados pelos pescadores para acederem aos pesqueiros e praias. Este trilho liga “Porto Covo a Odeceixe e, depois, complementa o caminho histórico entre Odeceixe e o Cabo de S. Vicente com circuitos complementares”, afirma Marta Cabral.

A rota Vicentina tem o seu percurso sinalizado até Odeceixe. Contudo, prevê-se que o resto do caminho, de Odeceixe para sul, esteja sinalizado durante os próximos três meses. Para Marta Cabral, a “recetividade tem até superado as expectativas, quer da parte do mercado internacional, quer de turistas portugueses”. A organização está satisfeita com o interesse das pessoas e com o alcance que este projeto está a ter também a nível nacional.