A edição de 2012 do Entre Margens quer promover novos olhares sobre o Douro. A partir de 5 de julho, e durante quatro meses, vão estar expostos em Vila Nova de Gaia (e, posteriormente, em outras sete cidades) os trabalhos de 26 fotógrafos – alguns convidados e outros selecionados através de um concurso promovido pela “masterclass” da Kameraphoto.

As fotografias do Entre Margens vão estar expostas em 35 núcleos expositivos – cubos gigantes iluminados, instalações no chão ou paredes de edifícios – nos centros históricos das oito cidades envolvidas.

“Pretende-se criar novos públicos para a região, bem como redescobrir o Douro”, explica Nuno Ricou Salgado, da Procur.arte – associação cultural autora do projecto.

O Douro visto como uma mulher

Por entre os vários trabalhos fotográficos, tentámos perceber o que está por detrás de temas como “Pedras” de Nelson D’Aires e “Douro Industrial” de Inês D’Orey, dois dos fotógrafos convidados para o Entre Margens.

Se o objetivo é criar um novo olhar sobre a paisagem e a própria região do Douro, então há que fugir à fotografia cliché, tipo postal. “Mas não é fácil”, observa a fotógrafa Inês D’Orey. Nelson D’Aires completa: “Não interessa fazer o que já foi feito, mas é complicado, porque as fotografias da paisagem normal, do rio, das vinhas, dos socalcos estão bastante povoadas na cabeça das pessoas”.

O trabalho de Nelson D’Aires funciona como uma metáfora: “Se tivesse que associar o Douro a algo, diria que é como uma mulher”. Porquê? “É poderoso, cheio de segredos e caminhos, com lugares por descobrir”. Em “Pedras” há uma relação entre a paisagem “dura e árdua para os olhos” e as pessoas que povoam a região do Douro.

“Estive em todos os concelhos, queria conhecer as gentes daqui”, conta . É precisamente a ligação entre a região e as suas pessoas, que o fotógrafo recria, por exemplo, numa fotografia de um jovem a trabalhar nas vinhas, com uma tatuagem no braço. Há uma ponte entre a tradição e o contemporâneo.

Não é “fácil” fugir ao cartão postal

No trabalho de Inês D’Orey, as indústrias fotografadas vão desde os vinhos aos enchidos, passando pelas alheiras e pelo queijo. O mais interessante “foi ver o processo e a intensidade dos espaços”, explica a fotógrafa. O objetivo era mostrar outra parte do Douro que as pessoas não conhecem. “Fugir do postal é difícil, mas também é uma mais valia”, confessa. As suas fotografias mostram espaços vazios em que “as pessoas podem recriar as suas próprias histórias”.

Promovido pela Fundação Museu do Douro, o Entre Margens tem – para além das exposições de fotografia – espetáculos de teatro, música ou cine-concertos. Desde Gaia até ao Alto Douro, o Entre Margens é uma intervenção cultural que pretende levar pessoas de cada uma das cidades até às restantes envolvidas.

Este projecto, que começou em 2011 e termina em 2013, vai ter exposições fotográficas em localidades como Vila Nova de Gaia, Amarante, Mirandela, Porto ou Lamego.